São 38 mulheres a participar no Sínodo sobre a Amazónia. Religiosas, leigas, negras, quilombolas e indígenas a representar os nove países que compõem a região Pan-Amazónica.
As mulheres trouxeram para o Sínodo “beleza, ternura, inteligência e racionalidade para lidar com temas que nos tocam desde o mais profundo de nossas realidades contextuais”, nas palavras da Márcia Oliveira, professora da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e assessora da Rede Eclesial Pan-Amazónica (REPAM) e da Cáritas Brasileira.
Num texto publicado pela página Amazonas Atual, Márcia refere que “é a primeira vez que um sínodo da igreja tem tantas mulheres a participar de forma ativa e efetiva”. No entanto, observa em seguida que essa participação ainda é “bastante limitada”, mas existe a consciência de que “estamos a abrir caminhos para as gerações futuras”.
A cientista social, que participa no Sínodo, afirma que esta presença indica que “mudanças importantes estão em curso” na “conquista do direito à fala” utilizada para denunciar “tudo o que nos aniquila, humilha e viola na Amazónia”.
“Denunciamos a crescente violência doméstica, o assédio sexual e moral a que estamos submetidas em toda a Pan-Amazónia. Questionamos as raízes do feminicídio, do tráfico humano e das migrações forçadas e as razões do silêncio e omissão por parte da sociedade no enfrentamento a estas mazelas que nos afetam mais diretamente”, aponta.
De acordo com Márcia Oliveira, a Assembleia Sinodal reconhece o papel das mulheres na experiência da ecologia integral e admite que são elas que cuidam da vida e a defendem em todos os sentidos.
“São mulheres de luta em defesa dos territórios, de vida e de pertencimento. Doam seu tempo, seus saberes e sua ciência para garantir mais vida e vida em abundância em toda a Amazónia”, explica.
E aponta que “por causa do seu comprometimento com os valores e princípios da ecologia integral”, sofrem o martírio e todo o tipo de perseguição e preconceito.
Márcia Oliveira recorda que durante o Sínodo será declarada santa a Irmã Dulce, “uma mulher simples, corajosa e estrategista que dedicou sua vida aos pobres e excluídos da sociedade”.
“Esse facto é importante para demonstrar que estamos em diversas frentes da sociedade. É também um gesto importante de reconhecimento do papel das mulheres no enfrentamento à pobreza num contexto de marginalização das mulheres, que exige de nós novas estratégias de organização, resistências e protagonismos. E assim, seguimos na Assembleia Sinodal”, conclui.