Actualidades
05 novembro 2019

Vocês não têm ideia das atrocidades que acontecem em África

Tempo de leitura: 3 min
Bispo auxiliar da República Centro-Africana fala sobre as angústias vividas pelos africanos
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«As pessoas na América Latina e na Europa, não têm ideia das atrocidades e angústias que vivemos em África”, afirma o bispo auxiliar de Bangassou, na República Centro-Africana, D. Jesús Ruiz Molina.

De acordo com as declarações do bispo comboniano à Rede Igrejas e Mineração, em África enfrentam-se muitos desafios semelhantes aos da Amazónia.

“Vivemos uma realidade brutal com a mineração e também com todas as questões ecológicas. Situações que estão sempre a piorar com a chegada de empresas estrangeiras”, denuncia o bispo comboniano.

“Quando o Papa convocou o Sínodo para a Amazónia, para nós em África foi motivo de muita alegria. Sempre acreditamos que havia grandes semelhanças entre o que se passa na Amazónia e na Bacia do Congo, que é o segundo pulmão do mundo, atrás apenas da grande floresta sul-americana”, indica o bispo.

Durante uma conversa de pouco mais de 11 minutos, D. Jesús Ruiz Molina ainda abordou a situação de semi-escravidão do povo pigmeu e a guerra interna que ocorre há mais de sete anos.

O povo pigmeu, por exemplo, foi expulso das suas terras quando indústrias madeireiras e de extração mineral chegaram: “Tiveram que deixar o seu habitat que era a selva e sair para coabitar com os povos bantus. O povo Bantu considera-os não-pessoas e a exploração que os pigmeus sofrem é terrível”, afirma.

“Muitas famílias têm pigmeus que lhes pertencem. Eles são os seus pigmeus: trabalham para eles, vivem para eles. E eles apenas lhes dão comida. É uma situação de semi-escravatura. E quando um pigmeu comete uma falta, são permitidas punições muito duras, inclusive a amputação de uma mão”.

“Infelizmente, há sete anos que temos uma guerra civil. E a guerra é um desastre também a nível ecológico. A fauna está a sofrer, mais especificamente com as reservas de gorilas e de elefantes que estão a desaparecer”.

“Os incêndios que foram vistos na Amazónia, por exemplo, são muito comuns aqui. Incêndios que duram semanas e semanas. E por não termos um governo estável para nos defender, fazem o que podem. Há muitos caçadores e pessoas que se aproveitam da situação”, lamenta o bispo.

De acordo com o bispo auxiliar de Bangassou, em África existem grandes desafios também para anunciar o Evangelho: “A guerra envolve 14 grupos armados. Alguns grupos são formados por mercenários estrangeiros. Defendem interesses da Rússia ou da China. Portanto, não é possível anunciar o evangelho sem denunciar essas injustiças”.

Outra questão apontada pelo comboniano é a situação das mulheres africanas: “Trabalhar pela dignidade das mulheres é outro dos grandes desafios que temos na Igreja africana. A Igreja africana tem muito clericalismo, por causa das conotações que temos de uma sociedade patriarcal, uma sociedade muito autoritária”.

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