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15 junho 2022

Nigéria: cristãos são discriminados

Tempo de leitura: 5 min
O arcebispo de Kaduna, no centro da Nigéria, afirma que os cristãos se sentem inseguros no país e denuncia que no Norte do país a perseguição religiosa é sistémica
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D. Matthew Man-Oso Ndagoso, arcebispo de Kaduna, na Nigéria (Foto: ACN)

 

A Nigéria, o país pais populoso de África, tem muitos problemas relacionados com a violência. A imagem que D. Matthew Man-Oso Ndagoso, arcebispo de Kaduna, apresenta do país na actualidade é desoladora: «Nos últimos 14 anos, a nação tem lutado com o Boko Haram, principalmente no Nordeste. Enquanto estávamos a lidar com isso, tivemos a questão do banditismo e, entretanto, tivemos a questão dos raptos para pedir resgate, situação que está a tornar-se cada vez mais difundida. E enquanto lutamos com isto, temos o velho conflito com os pastores Fulani.»

«O governo falhou completamente; é a ausência de um bom governo que está a causar isto. Bandidos, Boko Haram, raptos, todos estes são sintomas de injustiça, da corrupção que está no sistema. A menos que consigamos chegar à raiz da questão, estaremos a travar uma batalha perdida», disse D. Matthew Man-Oso Ndagoso, numa conferência online promovida pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) Internacional.

O arcebispo fala de uma violência generalizada: «Ninguém está seguro em sua casa, na estrada, nem mesmo no ar! Há dois meses, bandidos atacaram um avião na pista de Kaduna, e durante quase dois meses não tivemos vôos».

Na Nigéria o número de cristãos e muçulmanos é praticamente igual. Os cristãos vivem principalmente no Sul e os muçulmanos no Norte. Por sua vez, os pastores nómadas Fulani são maioritariamente muçulmanos e têm vindo a revelar-se cada vez mais violentos para com os agricultores cristãos. Por isso, é comum atribuir o conflito entre eles como sendo de índole religiosa, mas «isso não é correcto», precisa o arcebispo. «No Noroeste, os agricultores são, na sua maioria, muçulmanos, mas também eles têm conflitos com os Fulani», afirma.

«A religião e a etnia são questões muito sensíveis na Nigéria e são sempre levantadas por conveniência, mas este conflito não é principalmente religioso, disso tenho a certeza absoluta. Se se candidatar a um emprego e não o conseguir, pode sempre dizer que foi rejeitado por ser cristão, e o mesmo se aplica aos muçulmanos. Os oportunistas, nomeadamente os políticos, utilizam estes factores no seu próprio benefício, mas se formos à raiz, descobrimos que pouco ou nada tem a ver com religião», explica D. Matthew Man-Oso Ndagoso.

«O mesmo se aplica ao banditismo e aos sequestros: os padres são frequentemente alvo não por serem cristãos, mas porque os raptores acreditam que as igrejas podem pagar resgates para os libertar», explica o responsável da Diocese de Kaduna, que também tem sido severamente afectado por este problema. «Nos últimos três anos, sete dos meus padres foram raptados, dois foram mortos e um está em cativeiro há três anos e dois meses. Quatro foram, entretanto, libertados. Em 50 das minhas paróquias, os padres não podem ficar nas suas reitorias, porque são um alvo, são vistos como uma fonte fácil de dinheiro pelo resgate», referiu.

No entanto, isto não significa que não haja discriminação religiosa na Nigéria, esclarece o arcebispo. «A perseguição religiosa no Norte é sistémica. Para se praticar a religião livremente, deve ser possível pregar em qualquer lugar. E isso não é possível no Norte. Não posso construir uma igreja mesmo comprando terrenos, não se pode obter uma autorização de ocupação e, portanto, não se pode construir», explicou o prelado.

O arcebispo de Kaduna afirma que em muitos Estados as autoridades «não permitem o ensino do cristianismo», mas o Governo «emprega e paga aos imãs para leccionarem nas escolas», e «todos os anos o orçamento conta com dinheiro para construir mesquitas».

«Queremos que o nosso governo seja responsabilizado, que as pessoas sejam tratadas de forma igual», referiu.

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