Actualidades
13 maio 2023

Jesus promete o Espírito Santo

Tempo de leitura: 7 min
Reflexão do P. Manuel João Pereira Correia, missionário comboniano, para o sexto domingo de Páscoa, em que Jesus promete o dom do Espírito.
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VI Domingo da Páscoa - Ano A

Evangelho: João 14,15-21

 

Vira a tua omelete na frigideira, por amor de Deus!

 

Faltam duas semanas para concluir o tempo pascal. No próximo domingo celebraremos a Ascensão do Senhor e no domingo seguinte o Pentecostes. A Palavra de Deus convida-nos a dirigir o nosso olhar para estas festas. 

Hoje, Jesus promete-nos o dom do Espírito: "Eu pedirei ao Pai e ele dar-vos-á outro Paráclito para que fique convosco para sempre, o Espírito da verdade". Nos seus discursos de despedida, Jesus fala cinco vezes do envio do Espírito. Quatro vezes apresenta-o como o "Paráclito", termo grego muito rico que designa alguém chamado para ajudar, um consolador, um advogado de defesa... Por três vezes, Jesus caracteriza-o como o "Espírito da verdade""Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ele vos ensinará toda a verdade" (João 16,13).

Aqui, o dom do Espírito Santo aparece ligado ao amor ("Se me amardes..."). O amor é o "ninho" do Espírito. O apóstolo Paulo afirma que: "O fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, mansidão, temperança" (Gálatas 5,22-23). Todas elas qualidades ligadas ao amor.

 

O amor, motor da vida

O evangelho de hoje coloca em destaque precisamente o amor (cinco vezes), mas - surpreendentemente! - aqui Jesus fala do amor para com a sua pessoa. O amor que, no Antigo Testamento, era reservado a Deus (Deuteronómio 6,4-9), Jesus reclama-o agora para si próprio. Se a vida cristã nasce da fé, ela se manifesta e floresce no amor. O Evangelho de João termina com um tríplice pedido de profissão de amor, onde Pedro representa cada um de nós e toda a Igreja: "Simão, filho de João, tu amas-me?" (João 21,17). Que honra nos dá Deus ao pedir a nossa amizade! Deus tem um coração de amante!

Jesus afirma que o amor por ele se manifesta na observância dos seus mandamentos: "Se me amardes, guardareis os meus mandamentos". Esta afirmação é repetida duas vezes, como introdução e conclusão da passagem do Evangelho de hoje. Mas não se trata certamente de novas regras ou leis (já temos demasiadas!). Pouco antes, Jesus fala de um "mandamento novo", o do amor fraterno, distintivo dos seus discípulos (13,34-35). Falará disso mais duas vezes. Jesus preocupa-se com os seus, para que permaneçam unidos depois da sua partida, e por isso diz-lhes: "Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros" (15,17). Mas porque é que ele fala de mandamentos, no plural? Podemos pensar que se refere em geral aos seus ensinamentos, mas sobretudo às duas dimensões inseparáveis do amor: amar a Deus e os irmãos.

No entanto, não é o fazer que leva ao amor, mas é o amor que conduz à ação, como motor da vida. Os apaixonados sabem-no bem. Santo Agostinho, ele próprio um apaixonado, dizia: "Deixai que a raiz do amor esteja em vós, pois dela só pode sair o bem. Ama e faz o que quiseres!". E o apóstolo Paulo dirá: "O amor de Cristo impele-nos" (2 Coríntios 5,14). Atrever-me-ia a pensar, portanto, que a afirmação de Jesus não coloca a observância como condição do amor, mas o amor como condição prévia da observância. E quando Jesus diz: "Aquele que guarda os meus mandamentos e os observa, esse é o que me ama"... não se poderia aplicar também ao não crente?

 

"Em", a preposição do amor

Chama-me a atenção a insistência de Jesus sobre a comunhão profunda criada por este amor: uma habitação mútua! "Naquele dia, sabereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós". Embora encontremos outras preposições, como convoscojunto de vós, vós, a privilegiada é em vós, em mim, no Pai... Esta preposição em (έν, em grego) aparece cerca de 25 vezes, nestes dois capítulos 14 e 15, com esta conotação de intimidade profunda, de imanência, de habitação mútua. É por isso que Paulo diz que somos "templo de Deus" (1 Coríntios 3,16). O nosso coração é feito para ser habitado. Mas quem é que o habita?

 

Aprendamos dos místicos enamorados

Talvez não tenhamos interiorizado suficientemente esta realidade surpreendente e maravilhosa: somos morada de Deus, habitados por Deus, imersos em Deus! Os místicos, pelo contrário, compreenderam-no bem. Tomo o exemplo de um místico francês do século XVII que me fascina há vários anos: Lourenço da Ressurreição (Laurent de la Résurrection), irmão leigo num mosteiro carmelita de Paris. A espiritualidade que viveu e ensinou era muito simples: cultivar o sentido da presença de Deus, através do "exercício contínuo desta presença divina", em todos os momentos e em todas as circunstâncias, sendo primeiro cozinheiro e depois sapateiro num grande convento: 
"Na azáfama da minha cozinha, onde por vezes várias pessoas me falam ao mesmo tempo de coisas diferentes, possuo Deus tão tranquilamente como se estivesse ajoelhada diante do Santíssimo Sacramento. Não é necessário fazer grandes coisas. Viro a minha omelete na frigideira por amor de Deus e, depois de a ter feito, se não me resta mais nada, inclino-me e adoro o meu Deus que me concedeu a graça de a fazer, após o que me levanto mais feliz do que um rei".
Apesar de ser coxo, devido a uma ferida de guerra, e desajeitado ("grosseiro por natureza e delicado por graça", segundo o filósofo e teólogo Fénelon, seu admirador), o Irmão Lourenço, sem nunca dar sinais de impaciência ou de pressa, era pontual e preciso nas suas tarefas. Mas...
"Se por vezes me ausento um pouco desta presença divina, Deus faz-se logo sentir na minha alma... com movimentos interiores tão fascinantes e tão deliciosos que me envergonho de falar deles."

Também eu procuro preparar a omelete da minha reflexão dominical, esperando que seja saborosa ou pelo menos não indigesta, mas em todo o caso feita por amor!

P. Manuel João Pereira Correia, mccj

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