Actualidades
04 junho 2023

Tudo navega no infinito mar do Amor!

Tempo de leitura: 7 min
Reflexão do P. Manuel João Pereira Correia, missionário comboniano, para a solenidade da Santíssima Trindade
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Ano A - Santíssima Trindade
Evangelho: João 20,19-23

 

Nota catequética

Durante os noventa dias do tempo da Quaresma e da Páscoa, tendo como centro a Semana Santa da Paixão-Morte-Ressurreição de Jesus, experimentámos a acção salvífica do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Neste domingo, depois do Pentecostes, a Igreja convida-nos a contemplar esta acção de amor das três pessoas individuais em Deus na sua unidade e sinergia. "Esta festa é como um oásis de contemplação, depois da plenitude do Pentecostes" (P. Angelo Casati).

Hoje, portanto, celebramos a Festa, de facto, a Solenidade da Santíssima Trindade! Sim, porque existe uma hierarquia das festas. No topo, temos as solenidades, que têm precedência sobre as outras celebrações litúrgicas, com excepção dos domingos do Advento, da Quaresma, da Semana Santa e do período pascal, em que são geralmente transferidas para a segunda-feira seguinte. A um nível intermédio situam-se as festas. No último lugar da escala estão as memórias dos santos e dos acontecimentos especiais, que podem ser liturgicamente "obrigatórias" ou "facultativas".

O que celebramos nesta Solenidade? Um "mistério"? Sim, mas não como um quebra-cabeças que "humilha" a inteligência, mas como uma realidade de plenitude que ultrapassa toda a inteligência e nos enche de admiração. A Encarnação de Deus em Jesus de Nazaré e a Trindade, ou seja, um Deus trino, são os dois mistérios essenciais da fé cristã. Só quem professa ambos é considerado cristão.

 

Do exterior à intimidade de Deus

A unicidade de Deus (monoteísmo) foi alcançada pela inteligência humana através da filosofia. É possível a cada um chegar a esta "exterioridade" de Deus através da sua epifania na criação. À trindade de pessoas no único Deus, porém, foi a fé em Jesus que nos conduziu, porque ninguém tinha visto Deus, foi Jesus que o deu a conhecer (João 1,18). Não se trata, porém, de um conhecimento teórico ou dogmático, de pouca ou nenhuma utilidade, mas de uma introdução na intimidade de Deus, de uma imersão no imenso e surpreendente mistério de Deus. 

Hoje vivemos projectados para o mundo e para o universo, desejosos - e com razão! - de conhecer os mistérios do cosmos e da vida. Mas poucos estão interessados em mergulhar no Mistério de Deus! Além disso, a humanidade sempre procurou conhecer o "cosmos" que traz dentro de si: "conhece-te a ti mesmo"! E, apesar dos progressos espantosos das ciências, continuamos a ser um enigma para nós próprios. Talvez porque só o conhecimento de Deus e do seu Mistério pode revelar verdadeiramente o homem a si mesmo! 

"Deus-Trindade, o Mistério insondável, quem sabe, talvez seja o Fundo do ser, a criatividade do Universo, a Beleza do belo, a Bondade do bom, a Vida do vivo, a Informação do Cosmos, a Alma do mundo, a Consciência do Universo, a Ternura dos amantes, a Levedura da matéria, o Amor que me pede a cada momento para me exprimir plenamente e para captar a sacralidade de tudo o que existe" (Paolo Scquizzato).

 

A Trindade, uma exigência do amor

"Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna". Eis a afirmação mais extraordinária e revolucionária de toda a Sagrada Escritura! Deus é Aquele que não pode fazer outra coisa senão amar! É a primeira vez que encontramos o verbo "amar" no evangelho de João. Na primeira parte do seu evangelho, prevalece a fé, mas depois, na segunda parte, predomina o amor. A relação suprema do cristão com o Senhor é o amor. E a missão da Igreja é dizer a todos: Deus ama-te!

Na sua primeira carta, São João desenvolve esta verdade ao ponto de afirmar: "Deus é Amor" (1 João 4,8). A Trindade é uma exigência do amor: Deus é Amor, logo é Trindade! Caso contrário, seria um Deus solitário, solipsista e egocêntrico. Se Deus criou o homem "à sua imagem e semelhança"; se Deus disse que "não é bom que o homem esteja só"; se Deus criou a humanidade como família... (Génesis 1,26-27; 3,18), o relato bíblico deve indicar, de alguma forma, a natureza do Criador. Naturalmente a nossa linguagem é antropomórfica e, portanto, radicalmente inadequada. Deus será sempre Outro! 

Na meditação deste Mistério, permanece insuperável a intuição de Santo Agostinho, que define o Pai como o amante, o Filho como o amado e o Espírito Santo como o amor que os une. 

Enquanto não levarmos a peito esta novidade evangélica, corremos o risco de fazer de Deus um ídolo, construído à "nossa imagem e semelhança," desde a versão de um deus juiz até às distorções mais perversas, como podemos ver em certos fundamentalismos.

 

Exercício diário de oração para a semana

1. Fazer o sinal da cruz no início do dia, com a consciência especial de o viver em nome da Trindade. E no final do dia, antes de se entregar ao sono, repete-o como uma imersão no infinito Mar de Amor.

2. Durante o dia, repetir frequentemente, como ritmo do coração: Deus amou-me tanto que me deu o seu Filho! 

Trindade Eterna, sois como um mar profundo, no qual quanto mais procuro, mais encontro; e quanto mais encontro, mais cresce a sede de vos procurar. Vós sois insaciável; e a alma, saciando-se no vosso abismo, não se sacia, porque permanece com fome de Vós, sempre mais desejosa de Vós, ó Trindade eterna, desejando ver-Vos com a luz da vossa luz. (Santa Catarina de Sena).

P. Manuel João Pereira Correia mccj

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