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20 setembro 2023

África não é uma mina a ser explorada

Tempo de leitura: 7 min
Na audiência geral de hoje, o Papa Francisco evoca o testemunho de São Daniel Comboni e alerta para exploração e novas formas de «colonialismo» na África
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O Papa Francisco durante a audiência geral desta quarta-feira, 20 de setembro  (Foto: VATICAN MEDIA)

O testemunho de São Daniel Comboni (1831-1881), fundador dos Missionários e Missionárias Combonianos, um missionário «cheio de zelo pela África» esteve no centro da catequese da audiência geral desta quarta-feira, 20 de Setembro, na Praça de São Pedro. E lembrava as palavras de Comboni: os africanos «apoderaram-se do meu coração, que vive só para eles» e «o mais feliz dos meus dias será quando puder dar a vida por vós». Foi uma ocasião para o papa reafirmar a sua preocupação por aquele continente que ainda hoje é objecto de exploração e escravatura.

«Comboni na África, à luz dos ensinamentos de Jesus», disse o papa, «tomou consciência do mal da escravatura que «coisifica» o homem. E compreendeu que ela tem as suas raízes na escravidão do coração, «a escravidão do pecado, da qual o Senhor nos liberta». E recordou as palavras que pronunciou no encontro com as autoridades da República Democrática do Congo, em Kinshasa, a 31 de Janeiro.

Combater «todas as formas de escravatura»

Por isso, como cristãos, somos chamados a lutar contra todas as formas de escravatura. Mas, infelizmente, a escravatura, tal como o colonialismo, não é uma memória do passado. «Na África tão amada por Comboni, hoje dilacerada por muitos conflitos, depois do político, desencadeou-se um colonialismo económico igualmente escravizador. É um drama diante do qual o mundo economicamente mais avançado muitas vezes fecha os olhos, os ouvidos e a boca. Por isso, renovo o meu apelo: basta de sufocar a África, não é uma mina a ser explorada ou um solo a ser saqueado», referiu o papa. 

Salvar a África com a África

Francisco retomou a história de São Daniel Comboni que, depois de uma primeira estadia em África, foi obrigado a abandonar a missão por motivos de saúde, mas foi então que sentiu a inspiração de empreender um novo caminho de evangelização. Uma «intuição poderosa», sublinha o papa, longe da ideia de colonialismo, que Comboni resumiu com as palavras «Salvar a África com a África»: os povos aos quais se dirigia o anúncio do Evangelho não eram, portanto, apenas «objectos», mas «sujeitos», protagonistas da missão. E continua: «Com este espírito pensou e agiu de forma integral, envolvendo o clero local e promovendo o serviço laical dos catequistas, que são um tesouro da Igreja», indicou.

O trabalho de Comboni, acrescentou, promoveu o desenvolvimento humano, «cuidando das artes e das profissões, promovendo o papel da família e da mulher na transformação da cultura e da sociedade. Quão importante é, ainda hoje, fazer progredir a fé e o desenvolvimento humano a partir dos contextos de missão, em vez de transplantar modelos externos ou limitar-se a um estéril assistencialismo. Nem modelos externos, nem assistência. Tomar da cultura, da cultura do povo, o caminho para a evangelização. Evangelizar a cultura e inculturar o Evangelho andam de mãos dadas», acrescentou o papa.

A caridade como fonte de capacidade missionária

O Papa Francisco sublinha que a acção evangelizadora de São Daniel Comboni não se baseava apenas em valores importantes como a liberdade, a justiça e a paz, mas que «se inspirava no amor de Cristo e conduzia ao amor a Cristo». O fundamento da sua missão foi a caridade para com os irmãos e o amor a Cristo, que, como ele mesmo escreveu, torna doce o sofrimento e até o martírio. Afirmou o papa: «O seu desejo era ter missionários ardentes, alegres, empenhados: missionários – escreveu – «santos e capazes». [...] Antes de mais: santos, isto é, sem pecado e humildes. Mas isto não basta: é necessária a caridade para tornar os sujeitos capazes». A fonte da capacidade missionária, para Comboni, é, portanto, a caridade, sobretudo o zelo em fazer próprios os sofrimentos dos outros.

Uma Igreja solidária com os crucificados da História

Há um outro aspecto de Comboni para o qual o papa chama a atenção: a sua acção sempre em comunhão na Igreja. Francisco sublinha mais uma vez o seu testemunho de zelo na caridade e na missão, seguindo os passos do Bom Pastor: «O seu zelo nasceu enérgico e profético contra a indiferença e a exclusão. Nas suas cartas, faz uma referência urgente à sua amada Igreja, que durante demasiado tempo esqueceu a África. O sonho de Comboni é uma Igreja que faça causa comum com os crucificados da História, para experimentar com eles a ressurreição. A este propósito, faço uma sugestão. Pensem nos crucificados da história de hoje: homens, mulheres, crianças, idosos, todos os que são crucificados por histórias de injustiça e dominação. Vamos pensar neles e rezemos».

Comboni repete-nos hoje: não esqueçais os pobres

São Daniel Comboni, recorda Francisco, convida também a Igreja de hoje a não esquecer os pobres e a amá-los «porque neles está presente Jesus crucificado, à espera de ressuscitar».

E conclui Francisco: «Antes de vir para cá, tive uma reunião com legisladores brasileiros que trabalham para os pobres, que tentam promover os pobres com assistência e justiça social. E eles não se esquecem dos pobres: eles trabalham para os pobres. Eu digo-vos: não esqueçam os pobres, porque são eles que vos abrirão a porta do céu.»

Veja o vídeo:https://fb.watch/naATgTdsRe/

Leia o texto completo: Audiência São Dabiel Comboni

 

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