Notícias da Missão
24 junho 2019

No Congo, incendeiam bens por qualquer motivo

Tempo de leitura: 3 min
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O Padre Claudino Gomes, missionário comboniano a trabalhar na República Democrática do Congo e que nesta segunda-feira, 24 de junho de 2019, completa 46 anos de ordenação sacerdotal, envia-nos a notícia sobre uma importante ponte local que foi incendiada. Leia o relato.

Esta manhã, estava a arder toda a ponte “Théologat”, ao lado do Seminário Maior da diocese de Butembo, sobre o rio Kimemi e que dá acesso a Vulindi, a um quilómetro da nossa casa. “Inciviques” (nome genérico dado a desconhecidos que provocam desordem ou destroem bens públicos), incendiaram-na, esta madrugada. Porquê?

Ouvi duas tentativas de explicação por parte de habitantes daqui:

Segundo alguns, ontem, um taxista de moto caiu dessa ponte ao rio com os dois clientes que levava (no Congo, um mototaxista pode levar até três ou quatro pessoas bem apertadas no assento da sua moto). Até há pouco, nem os corpos nem a moto tinham sido encontrados. É “cultura” local que a “causadora” das mortes sofra idêntico destino... Alguém, para vingar as (presumíveis) mortes, terá posto fogo à “culpada”, a ponte.

Eu, perante as imagens e tendo em conta o ambiente de insegurança gerado nesta área por vários “grupos armados”, aventei a hipótese de um ato de guerra. Aos meus olhos, tratar-se-ia de impedir a passagem das forças armadas congolesas estacionadas em Butembo, na preparação de mais algum ataque contra alvos, na cidade. Mas a resposta dos locais não seguia essa via dramática.

A explicação, para eles óbvia, à parte a da vingança pelas mortes, é a seguinte: Na semana passada, o Presidente da Câmara de Butembo fez cortar o trânsito nessa frequentadíssima ponte, que liga a cidade a Vulindi para, dizia, construir outra. Na realidade, mais não fez que mandar substituir o piso de velhas tábuas por outro de tábuas novas.

Populares dececionados teriam encontrado esta forma de protesto como a mais clamorosa...

Infelizmente, no Congo “democrático”, tornou-se banal deitar fogo aos bens públicos, quer do Estado, quer das Igrejas, das instituições locais e internacionais, ou mesmo do seu próprio partido político por ter perdido as eleições... ou incendiar um carro envolvido num acidente mesmo que menor.

Absurdo?

Quem pode compreender as repercussões, na psique social, de décadas de uma violência infinita, proveniente das mais diversas origens e exercida de formas incrivelmente cruéis e quase sempre vitimando brutalmente a população inerme?

RDCClaudinoMissa

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