Já se passaram 21 dias desde que o P. Feliz da Costa Martins chegou à sua nova missão de El Obeid, no Sudão, mas somente agora conseguiu comunicar. A internet esteve cortada no país desde o dia 3 de junho.
Na carta que nos foi enviada no dia 9 de julho, o padre Feliz descreve o cenário que encontrou na cidade situada na zona central do Sudão, uma cidade histórica conhecida pelo sugestivo e engraçado apelido de arussat el rimal, a noiva das areias: “Os carros armados, espalhados pelas ruas da cidade fazem parte do cenário do dia-a-dia. O estado de alerta é permanente por parte dos soldados que procuram evitar inoportunos e suspeitosos ajuntamentos de pessoas. É comum encontrar um piquete militar também à porta das padarias e nas bombas de combustível, onde se formam longas filas durante todo o dia. E não é raro acontecer que o pão e o combustível acabem antes de chegar a nossa vez! Por outro lado, por mais controlo ameaçador que as milícias imponham sobre tudo e todos, os rumorejos e murmúrios não deixam de se ouvir aqui e além: «afinal, estamos muito pior do que antes… desde há mais de meio ano que andamos nisto»”.
Mas, de acordo com o missionário, “é na populosa capital do país (Cartum) que reside a maior expectativa” com a convocação de uma grande demonstração/greve de desobediência civil com o objetivo de pressionar a Junta Militar a entregar o poder à um Conselho Civil.
“A esperança não desiste, a democracia já vem perto”.
Sobre o aspeto religioso, o padre Feliz refere que “certamente, a melhor notícia é aquela em que também eu estou incluído: Jesus Cristo e a sua Igreja estão no meio deste povo, onde os cristãos são uma minoria. Mas não insignificante”.
“Sou muito feliz por poder partilhar a minha vida com esta gente de costumes, crenças e religiões tão variadas. Uma das coisas que me impressiona é que encontro com bastante frequência duas religiões (o Cristianismo e Islão) que convivem de forma pacífica nos vários membros de uma mesma família. Isso estimula o meu contacto com este povo e facilita o diálogo inter-religioso. Outro aspeto a ter muito em conta neste meio ambiente é o trabalho missionário no apostolado com os refugiados, na sua maioria cristãos que chegam do Sudão do Sul, nosso país vizinho, ameaçados com problemas de conflitos armados”, escreve o comboniano, há 27 anos a trabalhar no Sudão.