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05 novembro 2019

Líder indígena assassinado por madeireiros no Brasil

Tempo de leitura: 4 min
Paulino Guajajara vigiava a floresta e denunciava a extração ilegal de madeira em territórios indígenas
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O líder indígena Paulo Paulino Guajajara, de 26 anos, foi morto na sexta-feira, 1 de novembro, com um tiro no pescoço durante um confronto com madeireiros na Terra Indígena Arariboia, na região de Bom Jesus das Selvas, no Estado do Maranhão. Paulino Guajajara fazia parte dos Guardiões da Floresta, um grupo de indígenas que vigia a floresta e denuncia às autoridades a extração ilegal de madeira em território indígena.

O grupo de vigilantes que atua nesta região da floresta amazónica é formado por indígenas das etnias Guajajara, Kaapor e Awa-Guajá, que se arriscam para proteger o que ainda resta dos seus territórios constantemente invadidos para extração ilegal de madeira.

“Eles querem matar-nos a todos para ficar com nossas terras para produzir soja, cana-de-açúcar, biocombustíveis. Querem tirar o petróleo e o ouro das nossas terras. Nós somos a última barreira para eles”, já havia declarado, em 2018, o líder indígena e também Guardião da Floresta, Laércio Guajajara.

Laércio acompanhava Paulino na patrulha e ficou gravemente ferido por tiros no braço e nas costas. Um madeireiro, ainda não identificado, também morreu durante o confronto.

Em nota, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) “acusa e responsabiliza o Estado e o governo brasileiro pelo covarde assassinato de Paulo Paulino Guajajara”.

A manifestação do CIMI aponta diretamente as “declarações do presidente da República (Jair Bolsonaro) contra a demarcação e regularização dos territórios, seguidas de um ambiente regional preconceituoso contra os indígenas” como a principal motivação das invasões e da violência contra os povos indígenas no Brasil.

“Não é exagero dizer que os indígenas não podem mais circular em seus territórios com segurança”, lê-se na nota do organismo que dá voz aos indígenas brasileiros.

O Conselho Indigenista Missionário tem denunciado o aumento das invasões dos territórios indígenas ao longo de 2019. Entre janeiro e setembro, o CIMI contabilizou 160 casos de invasão a 153 terras indígenas localizadas em 19 Estados.

Uma delegação indígena que está a percorrer a Europa para denunciar o extermínio dos povos originários do Brasil, denunciou no parlamento belga a morte de mais este representante indígena assassinado por defender o seu povo e a floresta.

“A importância de trazermos a nossa voz para este lado do mundo é trazermos um pouco da nossa história sofrida durante 519 anos, agora com um agravante, com a legalização do crime ambiental e dos crimes contra os direitos humanos pelo atual governo que não respeita nada”, declarou Alberto Terena, representante do Conselho Terena e Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).

“Estamos aqui nesta campanha «Sangue Indígena: nenhuma gota a mais», que não é uma metáfora. Infelizmente, a nossa presença aqui nos países da Europa não impediu que o nosso parente Paulino Guajajara fosse assassinado no momento em que estamos a alertar para o ataque contra nossas vidas”, referiu Ângela Kaxuyana (que faz parte da comitiva indígena) na presença dos parlamentares belgas.

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