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06 dezembro 2021

Francisco condena «naufrágio de civilização»

Tempo de leitura: 4 min
O Papa Francisco questiona quem constrói muros para travar migrantes e condena «naufrágio da civilização» europeia
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Papa Francisco com crianças na ilha de Lesbos (Foto © Lusa)

 

O Papa Francisco disse hoje, 6 de Dezembro, na conferência de imprensa realizada durante o voo entre Atenas e Roma, que o «escândalo de tantas vidas afogadas no mar» Mediterrâneo representam um «naufrágio» da civilização europeia, reforçando o alerta deixado este domingo na ilha grega de Lesbos.

«Se não resolvermos o problema dos migrantes, corremos o risco de fazer naufragar a civilização, hoje, na Europa, tal como as coisas estão, a nossa civilização. Não apenas naufragar no Mediterrâneo. Não, a nossa civilização. É preciso que os representantes dos governos europeus cheguem a um acordo», afirmou o papa aos jornalistas.

Após evocar o «escândalo do drama dos migrantes», o pontífice foi particularmente crítico dos responsáveis que optam por deixar os migrantes «na costa da Líbia». «Isto é uma crueldade», sustentou.

Questionado sobre os políticos que impedem a migração ou que fecham as fronteiras, Francisco lamentou a «moda de fazer muros ou arame farpado». «Quem constrói muros perde o sentido da história, da própria história», indicou.

O papa admitiu que cada governo deve definir quantos migrantes é capaz de receber, mas sublinhou que estes «devem ser acolhidos, acompanhados, promovidos e integrados».

«Se um Governo não pode acomodar mais do que um determinado número, deve dialogar com outros países, cada um cuidando do outro. É por isso que a União Europeia é importante», precisou.

Evocando as situações que se vivem no Chipre e na Grécia, onde esteve em visita desde a última quinta-feira, Francisco lamentou a falta de «harmonia» nas políticas comunitárias, que acusou de promover guetos dentro dos vários Estados-membros.

«Há outro drama que quero sublinhar. É quando os migrantes, antes de chegarem, caem nas mãos dos traficantes que lhes tiram todo o dinheiro que possuem», acrescentou.

A 35ª viagem internacional do pontificado começou na última quinta-feira, no Chipre, e prosseguiu este sábado em território grego, onde o papa criticou a falta de solidariedade da União Europeia na resposta à crise migratória e alertou para um «retrocesso» nas democracias ocidentais.

No domingo, Francisco esteve em Lesbos, chamando a atenção para a situação de milhares de refugiados que procuram chegar à Europa. Foi a segunda vez que o papa esteve na ilha, a primeira foi em 16 de Abril de 2016, quando o pontífice falou sobre o horror das mortes no mar, sobre as «vítimas de viagens desumanas e sujeitas à opressão de torturadores» e levou 12 pessoas de três famílias para Roma. «O Mediterrâneo, que uniu durante milénios povos diferentes e terras distantes, está a tornar-se um cemitério frio sem lápides. Esta grande bacia hidrográfica, berço de tantas civilizações, agora parece um espelho de morte. Não deixemos que o mare nostrum se transforme num desolador mare mortuum, que este lugar de encontros se transforme no palco de confrontos. Não permitamos que este ‘mar das memórias’ se transforme no ‘mar do esquecimento’», disse o papa na ocasião. E, depois, num tom de súplica exclamou: «Por favor, irmãos e irmãs, paremos este naufrágio de civilização!”».

A viagem à Grécia contou com vários encontros dedicados à minoria católica (cerca de 1% da população) e com responsáveis da Igreja Ortodoxa, liderada pelo arcebispo Jerónimo II.

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