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27 dezembro 2021

Desmond Tutu: uma vida de luta pela justiça social

Tempo de leitura: 4 min
Faleceu Desmond Tutu, arcebispo anglicano sul-africano que lutou incansavelmente pela liberdade e a justiça social.
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Desmond Tutu na sessão de encerramento do Fórum Económico Mundial em Davos, Suíça, 1 de Fevereiro de 2009 (Foto: Lusa)

Desmond Tutu, arcebispo anglicano sul-africano, figura importante na luta contra os preconceitos e a violência do sistema de apartheid da África do Sul, que lhe valeu o Prémio Nobel da Paz em 1984, morreu aos 90 anos de idade no passado dia 26 de Dezembro, na Cidade do Cabo, África do Sul.

«A morte do arcebispo emérito Desmond Tutu é um novo capítulo de luto na despedida da nossa nação a uma geração de sul-africanos excepcionais que nos legaram uma África do sul liberta», disse o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.

Ramaphosa considerou Tutu «um homem de uma inteligência extraordinária, íntegro e invencível contra as forças do apartheid», mas que foi «também terno e vulnerável na sua compaixão por aqueles que sofreram a opressão, a injustiça e a violência».

O Papa Francisco expressou o seu pesar através de um telegrama assinado pelo cardeal secretário de Estado, segundo informa o VaticanNews. «Consciente do seu serviço ao Evangelho, através da promoção da igualdade e reconciliação racial» na sua terra natal, «o papa confia a sua alma à misericórdia amorosa do Deus Todo-Poderoso», refere o texto enviado ao núncio apostólico (embaixador da Santa Sé) na África do Sul, D. Peter B. Wells.

Em Portugal, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sublinhou que Tutu foi «uma das grandes figuras do século XX», que «deixa um legado para toda a humanidade», um «lutador maior pela justiça social, direitos humanos, liberdade e pluralismo na África do Sul».

«Desmond Mpilo Tutu era uma personagem única. O seu sentido de humor e riso contagioso ajudou a resolver muitas situações críticas na vida política e eclesiástica da África do Sul. Ele foi capaz de quebrar quase todos os impasses. Partilhou connosco o riso e a graça de Deus muitas vezes. Ele era um homem de Deus», escreve Baldwin Sjollema, primeiro responsável do programa do Conselho Mundial de Igrejas para o combate ao racismo, organismo em que Tutu exerceu vários cargos.

 

Breve perfil de Desmond Tutu

Desmond Mpilo Tutu nasceu no dia 7 de Outubro de 1931, em Klerksdorp, no Transvaal, zona mineira de ouro no centro da África do Sul.

Em 1954, depois de terminar os estudos universitários, começou a exercer como professor, como o pai, mas demitiu-se quando o Governo decidiu implementar um sistema de ensino inferior para os negros.

Decidiu ser sacerdote anglicano e iniciou os estudos teológicos em 1958. Em 1961 é ordenado sacerdote. No ano seguinte parte para Londres, tendo obtido o mestrado em teologia em 1966.

Em 1976 é escolhido como como bispo da diocese de Lesoto e, em 1978, é nomeado secretário-geral do Conselho das Igrejas da África do Sul.

Dois anos depois, torna-se o primeiro negro a ocupar o cargo mais alto na Igreja Anglicana da África do Sul quando é nomeado arcebispo da Cidade do Cabo.

Em 1994 realizaram-se as primeiras eleições multirraciais da África do Sul, sendo eleito Nelson Mandela, o primeiro presidente negro da nação. Um ano depois, o Presidente Mandela, que era amigo de Tutu e o apelidava de «a voz dos sem voz», convidou-o a presidir à Comissão de Verdade e Reconciliação. O organismo, que Tutu presidiu até 1998, tinha como objectivo ouvir as milhares de vítimas do regime do apartheid, partilhar o seu sofrimento e favorecer um equilíbrio entre a justiça, o perdão e a reconciliação.

 

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