Actualidades
26 julho 2022

Francisco pede perdão aos indígenas do Canadá

Tempo de leitura: 6 min
Nas primeiras palavras no Canadá, o Papa Francisco renovou o pedido de perdão aos povos indígenas e sublinhou que a Igreja é casa de reconciliação.
---

Nesta viagem apostólica ao Canadá, em vez dos habituais encontros com as autoridades civis e membros do corpo diplomático, a primeira paragem do papa foi um encontro com os sobreviventes do sistema de ensino residencial para crianças indígenas nos séculos XIX e XX.

Francisco começou por fazer uma visita privada ao cemitério local, onde rezou em silêncio, antes de discursar perante lideranças indígenas de todo o país. «Fazer memória das experiências devastadoras que aconteceram nas escolas residenciais impressiona, indigna e entristece, mas é necessário», disse o papa na sua intervenção.

O pontífice ressaltou que aguardava o momento de estar ali junto junto com os povos indígenas. «Quero iniciar daqui, deste lugar tristemente evocativo, o que tenho em mente de fazer: uma peregrinação penitencial. Chego às vossas terras nativas para vos expressar, pessoalmente, o meu pesar, implorar de Deus perdão, cura e reconciliação, manifestar-vos a minha proximidade, rezar convosco e por vós», disse Francisco perante milhares de participantes no encontro.

O chefe indígena Wilton Littlechild, antigo aluno de um internato no Canadá, deu as boas-vindas ao papa, junto à antiga escola de Ermineskin, instituição que foi confiada aos missionários católicos desde a sua fundação, em 1895, tendo acolhido mais de 150 mil indígenas até finais do século XX.  O chefe indígena agradeceu a Francisco pelo esforço em favor da reconciliação. «Sua Santidade, é uma grande honra recebê-lo entre nós. Percorreu um longo caminho para estar connosco na nossa terra e caminhar connosco no caminho da reconciliação. Por isso, honramo-lo e damos-lhe as nossas mais sinceras boas-vindas», declarou, perante representantes das populações indígenas de Maskwacis, na Província de Alberta.

No seu discurso, o Papa Francisco voltou a pedir perdão pela mentalidade colonizadora dos evangelizadores que chegaram ao Canadá. «Sinto pesar. Peço perdão, em particular pelas formas em que muitos membros da Igreja e das comunidades religiosas cooperaram, inclusive através da indiferença, naqueles projetos de destruição cultural e assimilação forçada dos governos de então, que culminaram no sistema das escolas residenciais», referiu o papa.

«O que a fé cristã nos diz é que este foi um erro devastador, incompatível com o Evangelho de Jesus Cristo», sublinhou o papa.

A seguir o pontífice lembrou que, «embora estivesse presente a caridade cristã e tivesse havido não poucos casos exemplares de dedicação às crianças, as consequências globais das políticas ligadas às escolas residenciais foram catastróficas. A fé cristã nos diz que se tratou dum erro devastador, incompatível com o Evangelho de Jesus Cristo. Perante este mal que indigna, a Igreja ajoelha-se diante de Deus e implora o perdão para os pecados dos seus filhos. Desejo reiterá-lo claramente e com vergonha: peço humildemente perdão pelo mal cometido por tantos cristãos contra as populações indígenas».

 

cq5dam.thumbnail.cropped.1500.844-1-9

O Papa visitou a igreja do Coração de Jesus, em Edmonton, paróquia nacional das Primeiras Nações, Métis e Inuítes, no Canadá, reforçando o seu pedido de perdão aos povos indígenas (© Vatican Media).

 

Igreja, casa de reconciliação

De tarde, Francisco deslocou-se à Igreja do Coração de Jesus das Primeiras Nações, onde abençoou uma imagem de Santa Kateri Tekakwitha, a primeira nativa da América do Norte canonizada pela Igreja Católica.

Construída em 1913, esta igreja foi designada em 1991 como paróquia nacional das Primeiras Nações, Métis e Inuítes, albergando por isso várias peças de arte sacra criadas por artesãos indígenas.

No início do encontro, Francisco foi saudado pelo pároco local dois paroquianos, descendentes de indígenas, que apresentaram esta igreja como uma «comunidade inclusiva», na qual se assume o compromisso de »preservar e revitalizar as línguas, artes e música indígenas».

No seu discurso, ante as populações indígenas e membros da comunidade paroquial, o Papa Francisco sublinhou, de novo, que esta viagem ao Canadá é assumida como uma «peregrinação penitencial», para recordar «o mal sofrido pelas populações indígenas, da parte de tantos cristãos, e pedir perdão, com dor».

O pontífice referiu que lhe custa «pensar que católicos tenham contribuído para as políticas de assimilação e alforria que transmitiam um sentido de inferioridade, despojando comunidades e pessoas das suas identidades culturais e espirituais, cortando as suas raízes e alimentando atitudes preconceituosas e discriminatórias, e que isso tenha sido feito também em nome duma educação que se supunha cristã».

A educação, frisou o papa, «deve partir sempre do respeito e da promoção dos talentos que já existem nas pessoas. Não é, nem jamais poderá ser, algo pré-confecionado que se há de impor, porque educar é a aventura de explorar e descobrir, juntos, o mistério da vida. Graças a Deus, através do encontro em paróquias como esta, edificam-se dia após dia as bases para a cura e a reconciliação».

A viagem papal, que se realiza entre 24 e 30 de Julho, vai passar pelas cidades de Edmonton, Quebeque e Iqaluit – que abriga o maior número de Inuítes, os membros da nação indígena esquimó.

(Com informação de Vatican News e Ecclesia)

 

Partilhar
Newsletter

Receba as nossas notícias no seu e-mail