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22 março 2024

Alegrias e desafios

Tempo de leitura: 3 min
A irmã Ana Ramujane, missionária comboniana originária de Moçambique, regressou, depois de catorze anos de missão na RD do Congo, ao seu país. Conta-nos que encontrou um contexto sociopolítico e eclesial muito diferente, que lhe dá alegrias e lhe lança novos desafios.
Ana Júlio Ramujane
Missionária comboniana
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A irmã Ana Ramujane, à direita, com um grupo de jovens moçambicanas que acompanha e ajuda na formação cristã (© Foto cedida pela Ir. Ana Júlio Ramujane)

 

Chamo-me Ana Ramujane e sou de Moçambique, mais precisamente do Centro do país, de uma província chamada Zambézia. Foi lá que cresci, estudei e conheci as missionárias combonianas. Decidi tornar-me uma delas, ao ver o seu modo de viver e de trabalhar. Depois da formação inicial e dos primeiros votos fui enviada, em 2017, para a República Democrática do Congo, onde vivi durante catorze anos em diferentes missões: Kinshasa, Butembo, Kisangani...

Agora estou no meu país. Pensava que o conhecia... No entanto, o contexto sociopolítico mudou muito. Também me parece complexo o caminho e a realidade da Igreja local.

Acompanhar os refugiados

Na missão, acolhemos um grupo de jovens que vêm estudar e querem conhecer-nos melhor. Oferecemos-lhes uma formação humana e cristã extra-escolar e acompanhamo-las na sua vida quotidiana. Há um outro grupo de jovens, do grupo Vinde e Vede, que vivem nas suas aldeias, e com as quais nos reunimos uma vez por mês para os encontros de formação.

Uma das coisas que me ocupa mais tempo e energia é visitar o campo de refugiados de Marratane, a 40 km da cidade de Nampula, capital da província com o mesmo nome. A província vizinha de Cabo Delgado vive há anos uma situação de insegurança crescente devido a ataques persistentes de grupos terroristas cuja identidade e intenções são desconhecidas.

Este facto leva a grandes afluxos de refugiados, muitos dos quais vêm para a província de Nampula. A nossa ajuda é certamente limitada, mas tentamos oferecer esperança através da nossa presença e da oração com a Palavra de Deus. As mulheres que participam nestes encontros partilham as suas vidas, as suas dificuldades e a forma como se vão aguentando com a ajuda de Deus.

Nesta situação, experimento dois sentimentos muito fortes. Por um lado, experimento a alegria de sentir que o sonho de Comboni de «salvar a África com a África» está a tornar-se realidade pouco a pouco. Apesar das minhas limitações, acredito que faço parte do sonho de Comboni, «uma africana ao serviço dos seus irmãos e irmãs numa situação de desolação e de procura de sentido».

Esta alegria traz consigo também um imenso desafio. É uma grande responsabilidade acompanhar estas realidades, estar perto das jovens e ajudá-las a fazer uma escolha livre por Cristo neste mundo e neste país onde a insegurança é o pão nosso de cada dia.

Nesta situação, colocamos a nossa confiança em Cristo, que é o melhor companheiro para cada etapa da vida. Comboni queria ter cem vidas para a missão, eu também gostaria de ter não só uma, mas muitas mais, para trabalhar na missão oferecendo esperança e um futuro melhor.

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Abril 2024 - nº 745
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