O profeta Joel, nome que significa «Javé é Deus», filho de Petuel (Jl 1,1), foi um dos profetas menores do Antigo Testamento. Não se sabe muito da sua vida, mas viveu, provavelmente, em Judá (Reino do Sul), entre os séculos viii e v a. C. no pós-exílio de Babilónia. Era um homem que conhecia bem a realidade religiosa e social do seu tempo, sempre atento à voz do Senhor, responsável e comprometido com Deus.
Foi a este homem fiel que o Senhor, numa situação de crise social causada por uma invasão de gafanhotos e uma seca severa, dirigiu a Sua Palavra. Joel começa, então, a anunciar o Dia do Senhor, denunciando a infidelidade e o pecado do povo, que se afastou de Deus. Recorda os efeitos do procedimento do povo: uma vida destruída. Nesse contexto, o profeta não perde a esperança e faz um veemente apelo à mudança de vida. Convida o povo de ao arrependimento e à conversão sincera, uma conversão de coração, que permita a Deus habitar em cada um de nós: «Convertei-vos a mim de todo o coração com jejuns, com lágrimas, com gemidos. Rasgai os vossos corações e não as vossas vestes, convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque Ele é clemente e compassivo, paciente e rico em misericórdia» (Joel 2, 12-13).
A verdadeira conversão tem de nascer do coração, do íntimo de cada um de nós, transformando totalmente a própria existência. Tantas e tantas vezes nas nossas vidas nos afastamos do Senhor, nos afastamos da Sua graça e do Seu amor.
E Deus não quer o nosso mal, senão a nossa felicidade. Na vida de cada um, apesar dos caminhos diferentes que sejam tomados, das decisões que mudem completamente o rumo de cada um, existirá sempre um vazio que só o amor de Deus pode preencher e a presença de Deus em nós será sempre uma luz que iluminará as nossas vidas mesmo nos momentos mais escuros e frios que vivermos.
Quantas vezes realizamos actos piedosos, contribuímos para associações, somos responsáveis nas nossas comunidades, vamos à missa todos os domingos, mas o Senhor não está nas nossas vidas, não está na nossa relação familiar ou social; quantas vezes rezamos ao Senhor, mas não ouvimos o clamor do pobre, do refugiado, do migrante... Conversão de coração implica abrir o nosso coração ao Senhor e viver a fraternidade.
A conversão não está nos actos exteriores, mas vem do coração. Um coração inteiro e indiviso, voltado para o Senhor. Por isso, conversão implica disponibilidade para recebermos o Senhor nas nossas vidas, pois Ele está connosco e acompanha-nos. Como nos refere o Papa Francisco, «antes de tudo lembremo-nos de que a conversão é uma graça, portanto, deve ser pedida a Deus com força».
Ante a atitude de arrependimento do povo, Deus é fiel e mostra o seu amor e a sua misericórdia. O povo é libertado da praga de gafanhotos, pode voltar a plantar e dará frutos novos e viçosos. E pode fazê-lo com a força do Espírito de Deus, que será derramado sobre toda a Humanidade: «Depois disto, derramarei o meu Espírito sobre cada homem, e os vossos filhos e as vossas filhas tornar-se-ão profetas; os vossos anciãos terão sonhos, os vossos jovens terão visões» (Joel 3,1-2; cf. Actos 2,17).» Joel anuncia que o Espírito será derramado sobre todos, uma visão que se cumprirá plenamente no dia de Pentecostes (cf. Actos 2,17).
Os jovens, à semelhança de Joel, estão chamados a ser profetas na Igreja e no mundo de hoje. Como escreveu o Papa Francisco no livro Deus É Jovem: «Um jovem tem algo do profeta e deve-se dar conta disso. Deve estar ciente de que tem as asas de um profeta, a atitude de um profeta, a capacidade de profetizar, de dizer, mas também de fazer. Um profeta de hoje tem capacidade, sim, de condenação, mas também de perspectiva. Os jovens têm essas duas qualidades. Sabem condenar, mesmo que muitas vezes não expressem bem a sua condenação. E também têm a capacidade de perscrutar o futuro e olhar mais para a frente.»
Ezequiel Ramin foi um dos combonianos com o coração de Jesus, que soube entregar-se completamente ao serviço de Deus e dos irmãos e irmãs mais necessitados, especialmente os pobres, os indígenas e os sem-terra. Há quarenta anos, foi assassinado no Brasil.
Ezequiel nasceu em Pádua, Itália, em 1953. Ainda jovem, decidiu ser comboniano. Este foi sempre seu grande ideal: queria estar ao lado dos mais pobres e abandonados. Foi ordenado sacerdote em 1980, e aos 30 anos, foi enviado em missão ao Brasil. Quando chegou a Cacoal (Rondónia), onde foi destinado, encontrou uma Igreja que caminhava junto ao povo, comprometida com os pobres e atenta às questões sociais. Havia comunidades consolidadas e lideranças que estavam a ser formadas, e por isso, eram capazes de exercer um protagonismo na vida eclesial e social destas pequenas comunidades.
Não demorou muito também a deparar-se com os conflitos de terra que havia naquela região. Encontrou-se num contexto de gritantes desigualdades pela falta de reforma agrária e de uso da violência pelos poderosos, que falsificavam títulos de propriedade de terras para ampliar os seus latifúndios e expulsavam ou matavam os indígenas para ficar com as suas terras. Ezequiel recebeu ameaças, mas colocou-se corajosamente em defesa dos indígenas e dos trabalhadores rurais sem-terra, na luta pelo direito à terra e à vida digna, vivendo de modo muito concreto a opção pelos pobres. Denunciou nos jornais a exploração ilegal da madeira, ajudou os indígenas a demarcarem as terras, buscou a paz para o povo ameaçado. Em várias ocasiões tratou publicamente desses assuntos, como quando disse: «O meu trabalho aqui é de anúncio e denúncia. Não poderia ser diferente considerando a situação do povo. A fé precisa caminhar junto com a vida…»
No dia 24 de Junho de 1985, o padre Ezequiel Ramin, aos 32 anos de idade, foi brutalmente assassinado quando voltava de uma missão de paz, na qual havia visitado os sem-terra na Fazenda Catuva para lhes pedir que se retirassem, pois corriam perigo. Foi apanhado pelas balas dos pistoleiros contratados pelos fazendeiros. A sua entrega missionária foi até ao fim.