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13 agosto 2025

Seguir Jesus, o Messias prometido

Tempo de leitura: 10 min
João Baptista, conhecido como o último profeta do Antigo Testamento, é para nós, cristãos, testemunho único de fé e de amor a Deus. A sua missão, vivida com fidelidade até ao fim, foi ser precursor e mensageiro de Jesus, o Messias.
Pedro Nascimento
Leigo missionário comboniano
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A vocação é-nos dada por Deus e o nascimento de João Baptista é um exemplo claro do amor de Deus por cada um de nós. Com efeito, por graça de Deus, Zacarias e Isabel, apesar de idosos, tiveram um filho a quem chamaram João (cf. Lc 1, 13-14). Como refere o padre comboniano Manuel João Correia, «todos somos concebidos, em primeiro lugar, no coração de Deus. De lá dimana a vida, a eleição, a consagração, e a missão do vocacionado: «antes de te formar no ventre de tua mãe, Eu te conheci; antes que fosses dado À luz, Eu te consagrei, para fazer de ti profeta das nações» (Jer. 1, 5). Assim se passou com a vocação de João, chamado por Deus para preparar e anunciar a vinda do Messias Salvador.

 

Convite à conversão

João Baptista era um asceta, consagrado a Deus, que viveu uma vida simples no deserto. Apelava à conversão e, por esse motivo, baptizava as pessoas no rio Jordão. Perante a violência, o poder e as injustiças, João convidava os seus contemporâneos a viverem uma vida nova, de acordo com os ensinamentos de Deus: «Quem tem duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma, e quem tem mantimentos faça o mesmo» (Lc 3, 11); «não exijais além do que vos foi estabelecido» (Lc 3, 13). A forte denúncia da forma corrupta como se governava e vivia provocou a ira do rei Herodes e da sua corte. João acabou por ser preso e, posteriormente, morto.

João baptizava com água, num sinal de conversão interior; Jesus baptiza no Espírito Santo e pelo Baptismo recebemos uma vida nova. Para receber Jesus precisamos de preparar o nosso coração, a nossa vida; precisamos de nos convertermos ao amor, como escreve São Paulo: «A caridade é paciente, a caridade é benigna; não é invejosa, não é altiva nem é orgulhosa; não é inconveniente, não procura o próprio interesse; não se irrita, não guarda ressentimento; não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta» (1Cor 13, 4-7). Para recebermos o amor de Deus nos nossos corações necessitamos também nós de nos preparar, de ter o coração livre para que o Senhor nele possa habitar.

 

Mensageiro da Luz

O profeta João, escolhido e amado por Deus, foi fiel à vontade de Deus durante a sua vida. Não procurou ser a figura central, tanto que se retirou quando Jesus apareceu, pois sabia que ele era somente o mensageiro do Messias. Nesse sentido, sempre apontou para Jesus, proclamando-o como o Messias: «João disse a todos: eu baptizo-vos em água, mas vai chegar alguém mais forte do que eu, a quem não sou digno de desatar a correia das sandálias» (Lc 3, 16) e ainda, «pois esta é a minha alegria!  E tornou-se completa! Ele é que deve crescer, e eu diminuir» (Jo 3, 29-30).

João Baptista é a voz que anuncia Jesus, a Luz de todos os povos. Essa é a sua missão. A sua existência, pautada pela oração, a penitencia e a humildade, está definida em função de Jesus: o importante é que Jesus seja anunciado, (re)conhecido e amado.

Também nós, discípulos de Jesus, dando sempre primazia a Jesus na nossa vida, não podemos deixar de O anunciar com alegria, sem medo, tanto com a nossa palavra como com as nossas acções. Sabendo que, como disse o Papa Francisco, «um cristão não anuncia a si mesmo, mas o Senhor».

 

Seguir Jesus

Um dia, João Baptista estava com dois dos seus discípulos. Ao ver a Jesus a caminhar, disse: «Eis o Cordeiro de Deus»!
(Jo 1, 29.35). As palavras de João despertaram no coração dos dois homens, André, irmão de Simão e o outro discípulo (não se refere o nome, mas os exegetas dizem tratar-se de João), o desejo de seguir Jesus (cf. Jo 1, 35-37-39). Jesus ao ver que eles O seguiam, pergunta-lhes: «Que procurais?» Eles respondem com outra pergunta: «Mestre, onde moras?»
E Jesus desafia-os: «Vinde e vereis.» Eles foram e permaneceram com Ele naquela tarde. O colóquio entre Jesus e os novos discípulos durou o dia inteiro e prolongou-se pela noite fora. Foi um tempo, acrescenta Santo Agostinho, vivido em íntima palestra, pressentindo o mistério do Reino de Deus. Este é o caminho para descobrir a nossa vocação: ir com Jesus, ver onde mora e permanecer com Ele. Só desta maneira podemos conhecê-lo, acolhê-Lo no nosso coração e testemunhá-Lo sem medo. Como disse João Paulo II em 1978, na homilia de inauguração do seu pontificado: «Irmãos e Irmãs: não tenham medo de acolher Cristo e de aceitar o seu poder! […] Não, não tenham medo! Antes, procurem abrir, melhor, escancarar as portas a Cristo! [...] Não tenham medo! Cristo sabe bem o que é que está dentro do homem. Somente Ele o sabe!».

A missão de cada um de nós, a exemplo de João Baptista, é preparar os caminhos de Jesus. Somos missionários pelo baptismo e estamos chamados a seguir Jesus com alegria, sendo testemunhas do Senhor até anos confins do mundo.

 

Missionária de Jesus

A irmã Eulalia Capdevila Enriquez, missionária comboniana espanhola, relata-nos como na juventude ouviu o convite de Jesus a segui-Lo e a comprometer-se com a causa missionária ao estilo de São Daniel Comboni.

«A situação da nossa família fez com que, desde muito pequenos, trabalhássemos a terra e no mercado para contribuir para a economia familiar. A minha mãe era catequista e o meu pai tinha sido missionário leigo em África e contava-nos muitas histórias de quando esteve no Camarões. Cresci neste ambiente em que as narrativas sobre África e as de Jesus se entrelaçavam de forma harmoniosa.

Em 1997, juntamente com jovens da minha paróquia, participei na Jornada Mundial da Juventude em Paris. Éramos mais de um milhão de jovens e nunca esquecerei a noite em que João Paulo II nos deu uma catequese sobre João 1,38: “Mestre, onde moras? Vem e vê.” Naquela noite, compreendi que, se não confiasse na palavra de Jesus, não chegaria a lugar nenhum. Era preciso arriscar-se.

Conheci as Missionárias Combonianas através de um missionário leigo comboniano e através dos Missionários Combonianos. Nos meus primeiros anos de formação, criei bases sólidas para o meu desejo de doação aos outros, especialmente aos mais desfavorecidos, sem esquecer que seguir Jesus é um caminho contínuo de crescimento humano e espiritual.

A minha primeira experiência missionária na Zâmbia foi uma bênção. As minhas palavras são sempre insuficientes para descrever a generosidade, o acolhimento e a humanidade que experimentei neste país. Lá vivi a minha vocação missionária durante doze anos.

Um momento importante desse período foi quando começámos a sensibilizar a população local sobre o cuidado da Criação, porque a queima de árvores para a produção de carvão vegetal estava a transformar a nossa zona num deserto. A iniciativa começou de forma muito humilde, mas com o apoio do chefe tradicional, hoje existe um centro chamado Mother Earth (Mãe Terra), que continua a sensibilizar sobre a necessidade de cuidar e gerir com sabedoria os recursos naturais. Além disso, acolhe várias iniciativas de formação sobre agricultura biológica, nutrição e outras práticas sustentáveis, cujo funcionamento é assegurado por uma comunidade internacional de irmãs combonianas.

Gosto de pensar que experiências como estas transformaram a minha mentalidade e a minha espiritualidade, esta escola de vida e de humanidade permitiu-me relacionar todos os aspectos da vida. Devemos anunciar Jesus e, ao mesmo tempo, esforçar-nos para aliviar o sofrimento dos nossos irmãos e irmãs.»

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EDIÇÃO
Julho e Agosto 2025 - nº 759
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