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30 dezembro 2025

Pedro, o pescador de homens

Tempo de leitura: 8 min
A vocação é um chamamento que Deus nos faz, apesar dos nossos erros e limitações, a que somos convidados a responder com prontidão, generosidade e alegria. Esse foi o processo que viveu o apóstolo Pedro.
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Temos inúmeros relatos nos evangelhos, nos Actos dos Apóstolos e nas cartas que nos permitem conhecer Pedro – depois de Jesus, Pedro é a pessoa mais mencionada no Novo Testamento.. Natural de Betsaida, nos arredores do mar da Galileia, Simão era um homem de fé, casado, um simples pescador, com uma vida comum, com um trabalho duro e exigente no mar da Galileia.

O evangelista Mateus conta-nos o momento em que Jesus chama Pedro: «Caminhando ao longo do mar da Galileia, Jesus viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes: “Vinde comigo e Eu farei de vós pescadores de homens.” E eles deixaram as redes imediatamente e seguiram-no» (Mt 4, 18-20). Simão, sem hesitação, com generosidade e disponibilidade, abandonou o seu barco, as suas redes e seguiu Jesus. De pescador de peixes, passou a ser pescador de homens, conforme a promessa de Jesus (Mt 4, 18-20; Mc 1, 16-18). Como sinal desse encontro e do novo compromisso, Jesus mudou o nome de Simão a Pedro, que significa pedra, rocha – no Antigo Testamento, a mudança do nome anunciava em geral a designação de uma missão.

A vida de Pedro transformou-se radicalmente desde aquele dia. Cheio de esperança, passou a acompanhar o Mestre e a segui-lo onde quer que Ele fosse. Nesse caminho de seguimento, começou a conhecer o Messias na convivência contínua, o que lhe permitiu ir amadurecendo na fé e na fidelidade.

Jesus está presente no meio de nós e, também hoje, nos convida a segui-lo, a conviver com Ele e a amá-lo, seja na oração, no amor fraterno uns com os outros, com o nosso testemunho no trabalho, no amor para com os pobres, com os marginalizados da sociedade. A exemplo de Pedro, também somos convidados a deixar as redes, o conforto, o medo do desconhecido, o medo de sofrer e a seguir o Senhor que anseia por nós.

 

Um discípulo fiel e cheio de amor

Da leitura dos evangelhos, podemos perceber que, depois da primeira resposta ao chamamento de Jesus e da sua adesão ao seguimento, Pedro, não obstante as suas debilidades e equivocações, no encontro com o Senhor, vai-se transformando paulatinamente em discípulo, apóstolo e anunciador da Boa Nova, pastor da Igreja universal.

Pedro possuía uma personalidade forte, era um homem impulsivo e entusiasta, mas tinha com um amor profundo ao Senhor, a quem seguia e servia com alegria. Protagonista de muito episódios, Pedro amava intensamente a pessoa de Jesus, ainda que muitas vezes tenha sido advertido pelo Mestre, por causa da falta de compreensão sobre o verdadeiro sentido do Reino de Deus. Reconhecendo os seus erros e acertos, Pedro perseverava na jornada junto ao Mestre, pois sabia que não havia outro caminho: «Senhor, a quem iriamos nós? Tu tens palavras de vida eterna. E nós cremos e sabemos que Tu és o Santo de Deus!» (Jo 6,68-69).

Pedro prometeu fidelidade absoluta a Jesus, mas na sua fragilidade humana, acabou por negá-lo três vezes. No entanto, pelas mesmas três vezes declarou o seu amor a Jesus, fruto de um processo de conversão: «Senhor, sabes tudo, Tu sabes que te amo» (Jo 21, 15-17). Pedro caía e errava, mas tinha a capacidade de mudar e recomeçar, pois o seu coração foi-se transformando através do amor e do perdão de Jesus. E foi pela sua fidelidade e amor que Jesus lhe deu a missão de «apascentar as suas ovelhas»: «Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja» (Mt 16,18).

Após a ressurreição, Jesus apareceu a Pedro, marcado pelo temor, e perguntou-lhe três vezes: «Simão, filho de João, tu amas-me?» (João 21, 15-17). Sentindo-se reconfortado, amado e perdoado, Pedro é reconfirmado na sua missão.

Depois de Pentecostes, Pedro, fortalecido pelo Espírito Santo, juntava multidões e anunciava a Boa Nova com entusiasmo. Sabendo que podia contar sempre com a presença do Ressuscitado, espalhou o amor do Evangelho a todos os povos. Foi em Roma que Pedro completou a sua jornada ao serviço do Evangelho por meio do martírio. Pediu que fosse crucificado de cabeça para baixo, por se considerar indigno de morrer da mesma forma que Jesus.

Tal como São Pedro, mesmo nos erros, quedas e desânimos da vida, Jesus chama-nos a segui-Lo com alegria e confiança. Apesar das nossas limitações, Deus sempre está connosco e acompanha-nos

 

«O amor de Deus nunca me abandonou»

O padre David Nyinga Dunga, missionário comboniano, nasceu em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, em 1987. Depois de concluir as primeiras etapas de formação, em 2015 foi enviado ao Peru para estudar Teologia. Ordenado sacerdote no seu país em Julho de 2021, regressou ao Peru, mais concretamente a Pangoa, na Amazónia, onde acompanha o povo nomatsiguenga.

O padre David percebeu que Deus o chamava a ser missionário «através da leitura de um calendário da revista comboniana Afriquespoir, onde estava escrita uma breve biografia de São Daniel Comboni». «Mais tarde», conta, «li um livro escrito por Cirillo Tescaroli que tratava da vida de Comboni. Fiquei impressionado com o seu amor ao próximo, sobretudo a sua preocupação em libertar os africanos da escravatura, em abrir missões em África e proclamar o Evangelho.»

Ao longo do seu processo vocacional e caminho formativo o padre David encontrou muitas alegrias e desafios: «A maior alegria que experimentei foi sentir-me amado por Cristo. Verifiquei isso nas diferentes etapas da minha formação missionária, vendo como cada vez era admitido a continuar em frente, o que sempre interpretei como um sinal de que Cristo desejava que eu permanecesse próximo a Ele como seu discípulo. Também é fonte de alegria para mim compartilhar a vida comunitária com os outros missionários. Tudo o que aprendi ao longo da minha formação é uma grande riqueza. No propedêutico, aprendi a ser livre e responsável, a reflectir diante de qualquer problema, a amar o trabalho bem feito e a orar. No postulantado, aprendi a crescer e a conhecer-me melhor: o meu carácter, a minha personalidade, as minhas qualidades e os meus limites. Nessa etapa, esforcei-me muito no trabalho de autoconhecimento e orei muito para que o Senhor me ajudasse a discernir bem a minha vocação. São igualmente inesquecíveis os momentos enriquecedores de estudo e serviço pastoral durante o estudo da Teologia no Peru, país onde continuo.»

O padre David tem a certeza de que durante todas estas etapas formativas o Senhor o ajudou «a revisitar a história pessoal e a redescobrir as marcas do seu amor». Actualmente, está «a usufruir da missão entre os indígenas nomatsiguengas do Peru», que são as «pessoas mais alegres» que encontrou na sua vidas.

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EDIÇÃO
Dezembro 2025 - nº 763
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