Há dias, a casa de Dicson ficou de novo inundada. O jovem queniano já perdeu a conta das vezes em que a água entrou pela porta de latão oxidado para empapar tudo o que encontra pelo caminho. Mas Dicson já está prevenido. Todas as manhãs, ao sair de casa à procura de trabalho, deixa todos os seus utensílios sobre a cama rudimentar: una estrutura de blocos de cimento coberta por um par de mantas puídas. Assim, a água assenhoreia-se da pequena superfície de chão de terra, convertido agora num leito de barro, mas não dos seus pertences.
Dicson vive, juntamente com outras 600 mil pessoas, em Mukuru, um bairro-de-lata que se foi expandindo com o decorrer dos anos nos arredores do cada vez mais rico e opulento centro de Nairobi, até se tornar um enorme subúrbio, formado por 25 bairros que crescem sem rei nem roque. E sem lei.