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21 agosto 2022

Promover a saúde integral

Tempo de leitura: 6 min
A irmã Sonia de Jesús García, missionária comboniana mexicana, partilha a sua experiência de missão em Mongu, na Zâmbia.
Ir. Sonia de Jesús García
Missionária comboniana
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A Ir. Sonia de Jesús García numa acção de formação do grupo de mulheres Promotoras de Saúde

 

Quando cheguei à Zâmbia, não tinha ideia de como seria esta nova experiência, pois estava pela primeira vez em África. Mas eu tinha a certeza de que, se Deus me trouxe para esta terra, Ele mostrar-me-ia o caminho a seguir. Com essa disponibilidade, comecei a visitar as aldeias, a observar a vida quotidiana e, claro, a rezar.

Ao mesmo tempo, comecei a reflectir em como poderia iniciar um serviço de apostolado no âmbito da saúde. Sabia que sozinha não conseguiria chegar a todos os lugares e visitar as pessoas doentes que vivem nos oito sectores desta região zambiana de Kaande, na província de Mongu, onde me encontro; passariam os três anos deste período missionário e, ainda assim, não teria conhecido pessoalmente todas as famílias.

Depois, veio-me a ideia de utilizar a metodologia «salvar a África com a África», como propôs São Daniel Comboni. Então, eu e mais duas senhoras organizámos um grupo de promotoras de saúde, formado por mulheres de cada comunidade. Para minha surpresa, 70 por cento das pessoas do grupo não são católicas, mas pertencem a diferentes congregações cristãs. Não obstante, o que nos congrega e une é o amor de Deus Pai e, por isso, em cada encontro dedicamo-nos também à formação espiritual. O nosso ponto de referência é a Palavra de Deus e nela descobrimos que Jesus fez uma opção preferencial pelos mais pobres e abandonados.

 

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A Ir. Sonia de Jesús García, na Zâmbia

 

Cada uma das promotoras realizou um censo na sua comunidade e, desse modo, inquirimos sobre a situação de cada família, de modo que, cada semana, as promotoras preparam um tema que responda às necessidades específicas da sua comunidade. Por exemplo, demos ênfase à questão da alimentação porque encontramos muitos casos de desnutrição em crianças, especialmente naquelas que têm mais de seis meses de idade, porque desde essa altura que não têm uma alimentação adequada à sua idade, comendo o mesmo que toda a família; no entanto, o seu corpo não está preparado para ser alimentado como um adulto e o bebé começa com diarreia e termina num estado de desidratação e desnutrição.

Outras situações de saúde muito preocupantes são a alta percentagem da população com tensão arterial muito elevada, verificando-se muitos casos de derrames cerebrais, e as pessoas que têm VIH-sida, uma doença que afecta inclusivamente crianças.

Quem os ensinará?

Com a nossa presença missionária nesta região da Zâmbia, ajudamos muito no desenvolvimento de todos os aspectos da vida, nomeadamente nos hábitos alimentares. Percebi que muitas pessoas fazem apenas uma refeição por dia e não tomam o pequeno-almoço. E eu perguntei-lhes: «É uma questão de pobreza, cultura ou preguiça?» Reflectimos sobre o facto de que o nosso organismo necessita de alimentos pelo menos três vezes por dia, falámos também do papel das vitaminas e dos minerais, e da importância de uma dieta equilibrada. É muito comum ouvir dizer: «Não temos dinheiro para comida.» Não obstante, já vi que quem quer, pode fazê-lo. Estou contente porque algumas das promotoras de saúde já estão a mudar os seus hábitos alimentares e tentam comer ao pequeno-almoço, comentando que se sentem melhor de saúde.

 

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A Ir. Sonia de Jesús García durante uma das visitas às comunidades na Zâmbia

 

A água é um líquido vital para o organismo humano. Mas, nesta região onde vivo, a maioria das pessoas, ao não saberem da sua importância, passam o dia sem beber pelo menos um copo de água. E quando a têm disponível numa reunião ou encontro, preferem um refrigerante a um copo de água. Se já existem problemas de hipertensão, este hábito intensifica o risco de um derrame cerebral.

Percebem como o Evangelho abre a porta ao avanço do conhecimento e a uma vida mais saudável? Jesus veio para nos dar vida e vida em abundância (cf. Jo 10,10). Agora, as promotoras de saúde estão a partilhar e a ensinar o que aprenderam nas suas comunidades.

Estamos a iniciar campanhas de sensibilização e informação nas comunidades para ensinar a todas as jovens mães como alimentar os seus filhos após os seis meses de idade, para que o bebé seja alimentado adequadamente. No entanto, o número de crianças subnutridas está a aumentar devido ao elevado preço dos produtos básicos.

Assim, vemos que existem dois grandes desafios: o desconhecimento e a pobreza económica, especialmente porque esta região é árida e cultivar os campos exige um trabalho árduo.    

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