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21 outubro 2022

Caminhar com o povo do Sudão do Sul

Tempo de leitura: 6 min
A irmã Beta Almendra, missionária comboniana natural da Ericeira, chegou a Wau, Sudão do Sul, no início de 2021, em plena pandemia de covid-19. Ao longo destes dois anos tem caminhado com este povo, partilhando com generosidade a sua vida e a sua fé.
Ir. Beta Almendra
Missionária comboniana
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Sudão do Sul é Terra Santa para as Irmãs Missionárias Combonianas. E estamos a celebrar 150 anos da nossa fundação. São Daniel Comboni chegou ao Egipto com as primeiras irmãs e depois ao Sudão. E assim começou esta linda vida missionária de tantas, mas tantas irmãs missionárias combonianas. São Daniel Comboni escreveu muitas vezes sobre nós, pois orgulhava-se de ter sido o primeiro a fundar uma congregação religiosa exclusivamente missionária. O seu lema foi – e sempre o será para os seus seguidores – “África ou morte”, que ele exprimiu com a frase «se tivesse mil vidas, mil vidas daria para a salvação destes povos».

A missão em Wau

Eu vivo em Wau, a segunda cidade mais importante do Sudão do Sul. Para poderem ter uma ideia da situação social em que vivem estes povos, conto-lhes que Wau é uma cidade sem água potável, sem electricidade e com estradas cheias de buracos. Mas com gente extraordinária.

Na minha comunidade somos cinco irmãs, de quatro nacionalidades: Portugal (duas), Itália, México e Uganda. No hospital, que tem por nome Hospital São Daniel Comboni, três irmãs desenvolvem o seu serviço missionário, uma é médica e é portuguesa, a irmã Joana Carneiro, uma é enfermeira e a outra é a administradora do hospital. O hospital pertence à diocese de Wau. A quarta irmã desenvolve o seu serviço missionário num dos departamentos da diocese e eu trabalho na Pastoral e na Educação. Na parte da manhã vou às escolas, onde instruo sobre os valores cristãos e na parte da tarde visito as famílias, estou na paróquia e acompanho os vários grupos, principalmente o grupo da liturgia, onde lemos e partilhamos a Palavra de Deus do próximo domingo; as crianças e adolescentes do grupo da infância missionária e o grupo de jovens. E todos os dias, de segunda a sexta, tenho lições de árabe, uma língua muito bonita, mas difícil.

 

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A Ir. Beta Almendra com raparigas do Sudão do Sul

 

Trabalho com a juventude

A minha prioridade são as jovens e a promoção vocacional. Acreditamos que a Igreja de Wau tem muita riqueza e que está pronta para partilhar a sua fé com outros povos. Assim, quando vou às escolas, universidade ou paróquias, o desafio é feito a todos os jovens, de serem boas pessoas e cristãos autênticos. Que levem Jesus Cristo a sério nas suas vidas, pois Jesus está comprometido connosco, Ele ama-nos e deseja o melhor para nós, mas precisa da nossa colaboração, da nossa vida, da nossa alegria, dos nossos sonhos de fazer deste mundo um mundo melhor, que é possível e tão necessário. Como diz o Papa Francisco na mensagem em vista da JMJ em Portugal: «Jovens, sejam originais! Animem-se e sigam em frente!»

A minha atenção e compaixão vai também para as raparigas. Existe uma grande necessidade e urgência de promover as jovens. Aqui a diferença entre raparigas e rapazes é enorme. Por exemplo, não existem professoras nas escolas secundárias, as que leccionam vêm de fora, a maior parte, das poucas que encontramos, vem do Uganda. Na universidade, as professoras são uma coisa rara. As que conseguem terminar um curso na universidade são logo escolhidas para trabalhar em alguma ONG e, geralmente, fora do país. Com isto quero dizer que muitas das nossas jovens não conseguem acabar o ensino secundário e continuarem os seus estudos. As possibilidades económicas são escassas e, por isso, as famílias dão-nas em casamento, considerando que são uma fonte de rendimento.

 

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A irmã Beta, no centro, com uma colega comboniana do Uganda e algumas jovens de Wau

 

Por isso, a minha, a nossa (com) paixão para tantas jovens. Estou seriamente empenhada a acompanhar estas raparigas, para que possam chegar à universidade. Este ano estamos a ajudar umas trinta jovens da escola secundária, para que possam continuar os seus estudos, pagando as suas propinas. Esta ajuda continua e faz parte do meu serviço missionário: vou visitar as suas famílias, conheço onde moram, a mãe, o pai, os irmãos e irmãs, interesso-me pelos resultados da escola, pela sua saúde. Posso dizer que é um acompanhamento integral que exige muita disponibilidade, muita paciência e muita compreensão.

Ultimamente tem chovido muito e as casas não aguentam com tanta água, pois os telhados ainda são feitos de maneira tradicional, isto é, de palha. Assim, no mês passado ajudámos duas famílias que ficaram sem casa. Duas famílias destas jovens. Cheguei aqui há quase dois anos (relativamente pouco tempo) e partilho convosco um segredo: amo estes povos, esta Igreja, esta diocese, esta cidade, a língua árabe, as tradições e costumes das diferentes tribos aqui presentes nesta cidade. Rezem e sejam generosos connosco. Conto convosco. 

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