Aos seus 13 anos, Latifa Aziza – uma menina magra, de rosto sorridente e cabelo preso em pequenas tranças – não se lembra da sua vida fora dos limites de Dzaleka. Ela chegou aqui, um campo de refugiados no distrito de Dowa, a cerca de 40 quilómetros da capital do Maláui, Lilongwe, quando ainda era criança e aprendia a pronunciar as primeiras palavras. «Sei que nasci na província de Kivu do Sul, na República Democrática do Congo. Os meus pais contaram-me, mas eu não sei nada sobre aquele lugar. Sempre morei em Dzaleka», diz num inglês correcto. «É a língua que me ensinam na escola. Assim todos podemos entender-nos, embora em casa use o suaíli», acrescenta.
Que Latifa possa ir à escola torna-a uma privilegiada. O campo de Dzaleka, aberto em 1994 para abrigar tutsis e hutus moderados que fugiam do genocídio no Ruanda e pensado para abrigar cerca de 12 mil pessoas, acolhe agora mais de 53 mil e está a crescer a um ritmo de 300 por mês. Um fluxo incessante de pessoas, cerca de metade das quais são crianças. E não há escola para tantas crianças. Segundo algumas ONG, a taxa de escolarização em Dzaleka mal chega a 40 por cento. Perante esta carência, proliferam pequenos projectos locais que são idealizados e executados pelos próprios refugiados e que tentam suprir a alarmante falta de salas de aula e recursos educativos. A escola ACCB, que Latifa frequenta, é um claro exemplo disso.