Opinião
29 março 2019

Cimeira do Clima falha emergência climática

Tempo de leitura: 5 min
No que respeita às alterações climáticas, o mundo está numa situação de emergência.
Francisco Ferreira
Associação ZERO e Professor no CENSE/FCT-NOVA
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A 24.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP24) teve lugar em Katowice, na Polónia, entre 2 e 15 de Dezembro. Foi uma reunião num país difícil na sua relação com as questões da energia e clima, já que a Polónia é ainda muito dependente do uso de carvão, nomeadamente para a produção de electricidade. Um dos objectivos principais, três anos após a aprovação do Acordo de Paris, era conseguir finalizar a sua regulamentação de modo a, nomeadamente, um conjunto de questões como a contabilização ou o reporte das emissões, bem como os objectivos dos diferentes países em termos de limitação de emissões, seja uniforme, transparente e comparável. A cimeira conseguiu realizar esta tarefa e a decisão final tem todos os elementos necessários para prosseguir os objectivos de resolver a crise climática. Os resultados positivos conseguidos, apesar de limitados, desta cimeira, não calam os avisos gritantes do recente relatório mundial elaborado pela comunidade científica e a exigência crescente de acção pelos cidadãos. Infelizmente não se conseguiu mobilizar suficiente vontade política para um compromisso claro de fortalecimento das promessas climáticas de todos os países até 2020 e para depois de 2020, bem como garantir o apoio financeiro adequado para os países em desenvolvimento lidarem com impactos climáticos devastadores. Ficou claro que os governos avançaram na implementação futura de muitas vertentes associadas à implementação dos princípios de Paris, mas continuam a falhar na resposta aos impactos catastróficos da mudança climática que foram destacados pelo recente relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), que afirma ser possível e desejável não ir além de um aumento de temperatura de 1,5 graus Celsius em relação à era pré-industrial. Se não quisermos depender de soluções duvidosas de captura de carbono, o mundo deverá ser neutro em carbono em 2044, e por isso a nossa margem de manobra para reduzir a poluição é, no máximo, de doze anos.

Os países pobres e vulneráveis não podem ser deixados para trás com o acordo de Katowice. As pessoas que enfrentam perdas e danos devido a secas, inundações e tempestades devastadoras não são reconhecidas. Tal é uma provocação para os povos mais pobres que são afectados pelas alterações climáticas e que na maioria dos casos são responsáveis por muito poucas emissões. Quanto mais adiarmos as reduções de emissões que serão necessárias, maior será a pressão sobre os recursos naturais do planeta. No que respeita às alterações climáticas, mais do que a urgência da acção é perceber que o mundo está efectivamente numa situação de emergência, em linha com o discurso de António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, ao longo da conferência. A cimeira que o secretário-geral vai promover a 23 de Setembro em Nova Iorque é agora um passo de mobilização essencial em 2019, além dos trabalhos na próxima reunião anual em Novembro no Chile.

 

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