Opinião
22 janeiro 2024

Moldando 2024 sem plástico

Tempo de leitura: 4 min
O plástico é o sinal de uma cultura do descartável e do efémero.
Miguel Oliveira Panão
Professor universitário
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Imagine um mundo onde cada passo na praia revela fragmentos de plástico em vez de conchas naturais. Este cenário está a tornar-se uma realidade em muitas partes do planeta. Uma sombria visão que serve de húmus na melhor preparação que podemos fazer desde o início do ano para o Dia da Terra em 22 Abril de 2024 dedicado ao binómio ou batalha do Planeta versus Plásticos. Porquê pensar tão cedo nessa preparação?

A decisão de destacar este tema reflecte a urgência crescente de combater a poluição por plásticos, desafiando-nos a adoptar acções concretas e transformadoras na nossa vida quotidiana. Quando em família quisemos diminuir a quantidade de plástico consumida, aprendemos a fazer iogurtes em casa, a privilegiar os produtos embalados em papel (massas, arroz, etc.) e a procurar reutilizar mais até do que reciclar. Será suficiente?

A crise dos plásticos é mais do que um problema ambiental; é uma crise espiritual e moral que nos convida a reconsiderar a nossa relação com o mundo natural. O plástico é o sinal de uma cultura do descartável e do efémero. E quando vemos as imagens de montanhas literais de plástico onde crianças procuram não sei bem o quê, estamos diante de uma visão que fere o coração além da vista. Fere o coração por sentir que também essas crianças vivem um certo tipo de descarte ao serem-lhe negadas as condições para desabrocharem todo o seu potencial criativo.

Se a realidade dos plásticos é ainda inegável, o que fazer para dar um sentido diferente ao que não tem qualquer sentido? Numa das aulas de transmissão de calor, costumo dar o exemplo de uma ideia genial na Nigéria de uma comunidade onde as pessoas recolheram todas as garrafas de plástico, encheram-nas com areia e produziram tijolos com os quais constroem casas que mantêm o interior termicamente protegido das condições exteriores, além de alguma protecção balística em zonas de guerra.

Megha Mendon é uma artista em Mangaluru, na Índia, que transforma garrafas e outros produtos de plástico em verdadeiras obras de arte que trazem uma maior consciência ambiental à comunidade onde vive, promovendo a sustentabilidade através da sua criatividade.

Na cidade de Petaluma, na Califórnia, um jovem DJ Woodbury, com 12 anos, respondeu ao convite feito na sua escola para ajudar a limpar o rio Petaluma do plástico que por esse flui. Ao fazê-lo, aprendeu a gostar da actividade, tendo recolhido uma tonelada de plástico! O conselho da cidade reconheceu o seu empenho e convidou-o a falar aos políticos sobre a sua iniciativa com a esperança de inspirar mentes e corações.

Na COP28 falou-se muito em financiamento para a sustentabilidade, mas nenhuma destas pessoas foi financiada. Agiram a partir do seu coração e nessa simples e eficaz acção testemunharam o modo de ultrapassar a crise espiritual. Mudar o coração com a mente e as mãos.

A preparação do Dia da Terra em 2024 é um acto contínuo de consciencialização que pode gerar uma onda de mudança positiva. O tempo é agora. 

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