Opinião
01 abril 2024

Salvar a mãe-terra da poluição plástica

Tempo de leitura: 4 min
Os crentes estamos chamados a crescer na conversão ecológica, adoptando um estilo de vida que faça um uso responsável dos bens da Mãe-Terra.
Bernardino Frutuoso
Director
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Em 1970, lia-se no anúncio publicado no jornal The New York Times pelos organizadores do primeiro Dia da Terra: «22 de Abril almeja um futuro que valha a pena viver». Nessa data, segundo as estimativas da época, 20 milhões de pessoas de diferentes comunidades – incluindo os estudantes de duas mil universidades e 10 mil escolas primárias e secundárias – saíram às ruas nos Estados Unidos para expressar a necessidade de cuidar da nossa Casa Comum e pensar num futuro mais amigo do planeta e mais sustentável.

Passados cinquenta e quatro anos dessa mobilização, esse apelo mantém-se vigente e a salvaguarda da Criação é uma tarefa primordial que a Humanidade deve abraçar. Actualmente, os dados de diferentes relatórios revelam que os indicadores da saúde da Terra continuam a piorar (o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse há dias na VI Assembleia das Nações Unidas para o Ambiente que por «culpa da Humanidade», o nosso planeta «está à beira do precipício» e os «ecossistemas estão em colapso». As causas dessa degradação ambiental são o resultado da adopção do que o Papa Francisco designa como «paradigma tecnocrático». Este modelo leva os seres humanos a pensar «como se a realidade, o bem e a verdade desabrochassem espontaneamente do próprio poder da tecnologia e da economia». Como consequência lógica, «daqui passa-se facilmente à ideia de um crescimento infinito ou ilimitado, que tanto entusiasmou os economistas, os teóricos da finança e da tecnologia» (Laudate Deum, n.o 20).

Um dos materiais que transformou a nossa vida quotidiana e nos trouxe muitos benefícios foi o plástico. Sendo o seu uso generalizado, a produção anual de plásticos alcançou os 430 milhões de toneladas (PNUMA, 2023), dos quais dois terços se transformam em lixo em pouco tempo; entre 19 e 23 milhões de toneladas filtram-se para os ecossistemas aquáticos, poluindo lagos, rios e mares. Na Europa, cada cidadão é responsável por 35 quilos de resíduos de embalagens de plástico por ano. A poluição plástica é, efectivamente, um problema mundial e exige uma acção à escala global, como refere o relatório Fechar a torneira: como o mundo pode acabar com a poluição plástica e criar uma economia circular, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) no ano passado. O documento apresenta «um roteiro para reduzir drasticamente» os riscos dos plásticos e defende que se pode reduzir esse tipo de poluição em 80% em todo o mundo até 2040. Para isso, é preciso fazer mudanças no mercado, eliminar os plásticos problemáticos e desnecessários – particularmente aqueles de consumo único – e apostar na reutilização e na reciclagem.

Na crise ecológica que estamos a viver (ver páginas 26-29), os crentes estamos chamados a (re)descobrir que somos uma só família, reconhecendo que os laços que nos unem superam o âmbito humano e incluem toda a criação – o Papa Francisco recorre no seu pensamento à ideia da Terra como mãe, precisamente porque o planeta tem a capacidade de nos dar tudo o que precisamos para viver, assim como faz uma mãe que cuida dos seus filhos. Temos, nessa perspectiva, uma acrescida responsabilidade de cuidar da Casa Comum, crescendo na conversão ecológica, abandonando a cultura do descarte e adoptando um estilo de vida que faça um uso responsável dos bens da Mãe-Terra.

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Editorial
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