Opinião
05 junho 2024

Restaurar o que não se pode continuar a perder

Tempo de leitura: 3 min
A Humanidade não está fora da Natureza. Precisamos recriar uma relação equilibrada com os ecossistemas que nos sustentam.
Francisco Ferreira
Associação ZERO e Professor no CENSE/FCT-NOVA
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O tema deste ano do Dia Mundial do Ambiente, 5 de Junho, é «acelerar o restauro dos solos, a resiliência à desertificação e às secas». Trazer a Natureza de volta é crucial para enfrentarmos a crise climática, traz-nos benefícios de saúde – e faz economicamente sentido.

Os países precisam de assegurar os compromissos existentes para restaurar um milhar de milhões de hectares de terra degradados e assumir compromissos semelhantes para as áreas marinhas e costeiras. O restauro é essencial para manter o aumento da temperatura global abaixo de 2 °C, preferencialmente abaixo de 1,5 °C, garantindo segurança alimentar para uma população crescente e diminuindo o ritmo de extinção das espécies. 

A Humanidade não está fora da Natureza; ela é parte dela. Precisamos recriar uma relação equilibrada com os ecossistemas que nos sustentam. Infelizmente, ainda estamos a caminhar na direcção errada. Os ecossistemas do mundo – dos oceanos e florestas às terras agrícolas – estão num processo de degradação, em muitos casos a um ritmo acelerado. As pessoas que vivem na pobreza, mulheres, povos indígenas e outros grupos marginalizados suportam o peso desses danos. Embora as causas da degradação sejam diversas e complexas, uma coisa é clara: o crescimento económico maciço das últimas décadas tem sido feito à custa do equilíbrio ecológico.

O restauro de ecossistemas é necessário em grande escala para o alcance da agenda de desenvolvimento sustentável [estamos, precisamente, a celebrar a Década das Nações Unidas para o restauro dos ecossistemas 2021-2030, que lança um forte apelo para a protecção e a revitalização de ecossistemas em todo o mundo]. A conservação de ecossistemas equilibrados – embora de importância vital – já não é mais suficiente. Estamos a usar em recursos o equivalente a 1,6 planetas para manter o nosso modo de vida actual, e os ecossistemas não conseguem acompanhar as nossas exigências. Em termos simples, precisamos de mais Natureza. 

A boa notícia é que a Natureza tem uma extraordinária capacidade de renovação. Enquanto alguns ecossistemas estão a aproximar-se de um ponto de ruptura do qual não podem recuperar, muitos outros podem florescer novamente se pararmos os danos e restaurarmos o seu equilíbrio, biodiversidade e produtividade. Metade do produto interno bruto mundial depende da Natureza e cada euro investido em restauro cria até 30 euros em benefícios. Temos de aumentar a quantidade de financiamento para o restauro, inclusive por meio da eliminação de subsídios perversos que incentivam uma maior degradação e alimentam as alterações climáticas. 

Todos temos um papel a desempenhar no restauro de ecossistemas e tal não é uma tarefa pequena porque será necessário um esforço concertado para verdadeiramente reabilitar o planeta. A beleza deste restauro é que se transmite uma mensagem de acção e esperança, e pode acontecer em qualquer escala – seja no próprio quintal, num parque urbano, no vale de um rio, numa floresta ou num ecossistema globalmente ameaçado. Isso significa que todas as pessoas se podem envolver. Vamos ao trabalho! 

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EDIÇÃO
Julho 2024 - nº 748
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