Opinião
07 julho 2025

Artífices de uma paz desarmada e desarmante

Tempo de leitura: 4 min
Os discípulos missionários de Jesus somos artífices da paz, pedindo-a incessantemente ao Senhor da Vida e construindo-a activamente no nosso quotidiano.
Bernardino Frutuoso
Director
---

Leão XIV, na sua primeira bênção urbi et orbi na Praça de São Pedro, invocou «a paz de Cristo Ressuscitado» e repetiu a palavra «paz» dez vezes durante a sua alocução, pondo ênfase na defesa de «uma paz desarmada e desarmante». Nestes meses, no contexto das inúmeras guerras em curso no planeta – da Faixa de Gaza ao Sudão (ver páginas 44-49), passando por Mianmar – o papa comprometeu-se activamente na construção da paz. Significativo foi o facto de que o seu primeiro telefonema a um chefe Estado tenha sido ao presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, e, posteriormente, tenha conversado com o presidente russo, Vladimir Putin, pedindo-lhe que faça um gesto que promova a paz e use o diálogo para encontrar soluções para o conflito.

Com audácia profética, o pontífice declarou que a Igreja «não se cansará de repetir: silenciem as armas». Apostando no caminho do diálogo, da reconciliação e na eficácia da diplomacia, manifestou que a Santa Sé «está à disposição para que os inimigos se encontrem e se olhem nos olhos, para que os povos redescubram a esperança e a dignidade que merecem, a dignidade da paz.» E lançou um emotivo apelo: «Os povos querem a paz, e eu, com o coração na mão, digo aos chefes das nações: encontremo-nos, dialoguemos, negociemos! A guerra nunca é inevitável, as armas podem e devem silenciar-se, pois não resolvem os problemas, mas aumentam-nos; porque só fica na História quem semear paz, não quem colher vítimas». Ante os ataques entre Israel e o Irão, disse: «A guerra não resolve os problemas, mas amplifica-os e produz feridas profundas na história dos povos, que levam gerações para cicatrizar. Nenhuma vitória armada poderá compensar a dor das mães, o medo das crianças, o futuro roubado».

Com a preocupação que nasce do uso da inteligência artificial (IA) na indústria bélica – por exemplo, drones com IA utilizados para identificar alvos e atacar infra-estruturas – Leão XVI pede que não nos resignemos nem habituemos à guerra e convida os governantes a rejeitar «como tentação o fascínio das armas poderosas e sofisticadas». Na mesma linha, a Comissão dos Episcopados Católicos da União Europeia exorta os responsáveis políticos do Velho Continente a evitar uma corrida armamentista e insta a que «os gastos com defesa permaneçam proporcionais às necessidades reais e sejam guiados pelo objectivo da segurança humana e da paz, e não por interesses comerciais». Os prelados assinalam, ainda, que a Europa deve «contribuir para a construção de uma nova arquitectura global de paz e para o fortalecimento do sistema multilateral, baseado em regras, com as Nações Unidas reformadas, mais participativas e eficazes no centro».

Enquanto cidadãos e baptizados, não podemos aceitar o cruel espectáculo da guerra como um novo normal na vida dos povos. Os discípulos missionários de Jesus somos artífices da paz, pedindo-a incessantemente ao Senhor da Vida e construindo-a activamente no nosso quotidiano, pois, como peregrinos de esperança, sonhamos e colaboramos responsavelmente na edificação de um mundo melhor, mais pacífico, justo e fraterno.  

Partilhar
Tags
Editorial
---
EDIÇÃO
Julho e Agosto 2025 - nº 759
Faça a assinatura da Além-Mar. Pode optar por recebê-la em casa e/ou ler o ePaper on-line.