Escrevem Edgar Morin, Raúl Motta e Emilio-Roger Ciurana em Educar para a Era Planetária: «A nossa cultura actual corresponde ainda à pré-história do espírito humano e a nossa civilização ainda nem sequer ultrapassou a idade de ferro planetária.» Se quisermos caminhar na direcção desta civilização precisamos de reinvestir na educação.
A «idade de ferro» de que falam os autores refere-se aos conflitos bélicos que se mantêm ao longo dos últimos dois séculos e que nos actuais tempos em que vivemos se acentuam em vez de manifestarem um amadurecimento da Humanidade em relação à sua capacidade de estabelecer relações de mútuo respeito. A paz assemelha-se ainda a uma pausa entre guerras. E custa acreditar que, num tempo em que a tecnologia pode fazer tanto por tantos, nos mantenhamos em conflitos armados sem qualquer sentido. Creio que grande parte da solução passa realmente pela educação.
Morin, Motta e Ciurana reconhecem que já Platão realçava o eros como condição indispensável de qualquer ensino. Quem não sente o desejo de ensinar a aprender, o prazer de o fazer ao transmitir conhecimento aos outros, significa que não atingiu ainda o verdadeiro alcance da vocação ao ensino. O amor ao conhecimento é inseparável do amor pelos alunos. E, como professor, a minha experiência é a de faltar ainda qualquer coisa para tomarmos maior consciência disto.
A ausência sistemática de alunos nas aulas faz-me pensar no amor por aprender. Qual a motivação para que um estudante frequente a universidade ou o ensino em geral? Será porque os pais o obrigam, ou pela imposição da sociedade? Cada estudante tem a noção mínima da importância da sua formação profissional para poder sustentar-se no futuro, mas isso implica encarar o acto de aprender no seu aspecto funcional e utilitário, não tanto como forma de humanização. É urgente tomar maior consciência de aprender a amar o que se aprende porque me torna mais e melhor humano.
Se o ensino permite que a civilização humana floresça, saber aprender permite à pessoa humana florescer. O ser humano está sempre a aprender. Por isso, se as condições em que vive forem de conflito é isso que irá aprender. Aprende a manter e manobrar uma arma, em vez de manter e manobrar um livro através do qual aprende a ler, cada vez mais e melhor, e a pensar criticamente sobre o mundo ao seu redor. E por mais que uma pessoa consiga ser autodidacta, a maior parte de nós humanos aprende no relacionamento que cria entre si e quem lhe ensina. Aliás, a melhor forma de manter um regime totalitário é destruir o amor ao ensino, controlando-o, em vez de dar espaço à imaginação, criatividade e sentido crítico de cada pessoa.
Quando centramos o ensino no aluno, como escutamos em muitos sectores da sociedade, não corremos o risco de centrar na imaturidade natural daquele que aprende ainda a aprender?
A falta que sentia anteriormente é a de inverter a pressão por ter boas notas para o lazer de aprender a amar o que se aprende.