No primeiro dia deste mês de Setembro, celebramos o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação – o Tempo da Criação, celebração ecuménica anual de oração e acção pela nossa Casa Comum que se prolonga até ao dia 4 de Outubro, festa de São Francisco de Assis. O tema da jornada deste ano, que tinha sido escolhido pelo Papa Francisco, é Sementes de Paz e Esperança, que significativamente se integra no contexto do Ano Santo que estamos a celebrar e em que somos convidados a ser peregrinos da esperança.
Ainda há quem negue o aquecimento global e as alterações climáticas. Também entre os católicos há negacionistas que chegam a criticar o facto de a ecologia integral ser uma prioridade eclesial, ignorando as dimensões morais e éticas da fé. Leão XIV acolhe os sinais dos tempos e refere na mensagem para este dia que «em várias partes do mundo, já é evidente que a nossa Terra está a cair na ruína. Por todo o lado, a injustiça, a violação do direito internacional e dos direitos dos povos, a desigualdade e a ganância provocam o desflorestamento, a poluição, a perda de biodiversidade. Os fenómenos naturais extremos, causados pelas alterações climáticas provocadas pelo homem, estão a aumentar de intensidade e frequência, sem ter em conta os efeitos, a médio e longo prazo, de devastação humana e ecológica provocada pelos conflitos armados».
O papa alerta para o impacto desigual da devastação dos ecossistemas na vida das pessoas, em particular dos mais pobres: «Parece ainda haver uma falta de consciência de que a destruição da Natureza não afecta todos da mesma forma: espezinhar a justiça e a paz significa atingir principalmente os mais pobres, os marginalizados, os excluídos. A este respeito, o sofrimento das comunidades indígenas é emblemático». Segundo o papa, a justiça ambiental representa uma necessidade urgente que «ultrapassa a mera protecção do ambiente», é verdadeiramente «uma questão de justiça social, económica e antropológica». Além disso, «é uma exigência teológica, que para os cristãos tem o rosto de Jesus Cristo, em quem tudo foi criado e redimido. Num mundo onde os mais frágeis são os primeiros a sofrer os efeitos devastadores das alterações climáticas, do desflorestamento e da poluição, cuidar da criação torna-se uma questão de fé e de humanidade.»
Para Leão XIV chegou o tempo de «dar seguimento às palavras com obras concretas», trabalhar com dedicação e ternura, com a certeza de «muitas sementes de justiça podem germinar, contribuindo para a paz e a esperança». E das iniciativas da Igreja, que são como sementes, o papa destaca o projecto de ecodiversidade Borgo Laudato Si’, que Francisco deixou como herança em Castel Gandolfo. Foi ali que Leão XIV celebrou pela primeira vez a missa pro custodia creationis (custódia da Criação), segundo o novo formulário que ele promulgou e foi integrado no Missal Romano.
Dez anos depois da publicação da profética encíclica Laudato Si’, é hora de rezar a ecologia integral, viver a vocação de cuidadores da Casa Comum e com as nossas opções e acções fazer germinar sementes de paz, justiça e esperança.