Os cientistas americanos que estudam as alterações climáticas ficaram indignados com um relatório que saiu da sua Agência para a Protecção do Ambiente, onde argumenta que o aquecimento global é economicamente menos grave do que se pensa. Os investigadores que assinam esse relatório são credenciados, mas cederam à visão em túnel. Uma visão em túnel é limitada, parcial e redutora, e a deste relatório enquadra-se com a da actual administração americana, privilegiando áreas onde o conhecimento é mais incerto, dando ênfase ao que acontece nos EUA, esquecendo os outros e seleccionando áreas onde parece haver contradições que são uma pequena parte num todo maior.
Em Portugal e noutras partes do mundo, incluindo os EUA, o calor no Verão levou a temperaturas extremas como os 46,6 ºC em Mora, no Sul de Portugal, pelo final de Junho, ou a impressionante (felizmente inofensiva) nuvem que surgiu repentinamente no horizonte e se dirigia à costa portuguesa onde as pessoas se bronzeavam ao sol, como se fosse um tsunami. No resto da Europa sente-se a onda de calor e um pouco por todas as partes do mundo.
Se a sala onde acolhemos pessoas estiver toda desarrumada, o ser humano tende a orientar os convidados para as divisões onde as coisas estão mais arrumadas. Se numa conversa não tivermos bem a certeza daquilo que estamos a dizer, focamo-nos em jargões e elaborações de discurso complexos, de modo que a pessoa que confia em nós fique a pensar «ele deve saber o que está a dizer...» Por isso, dizer que o CO2 aumenta o efeito de fertilização das plantas não é falso, mas isso não se equilibra com outros efeitos nocivos e mais impactantes, como as tais ondas de calor que levam à morte prematura de pessoas frágeis, assim como chuvas mais intensas, entre outros fenómenos.
Por outro lado, o facto de a longo prazo, nos EUA, não existirem dados que suportem o aumento da frequência e intensidade de fenómenos climáticos extremos não quer dizer que isso não esteja a acontecer em outras partes do mundo. Repetidamente, o Papa Francisco na sua Laudato Si’ chamava a nossa atenção para a realidade de que no mundo tudo está ligado. A onda de isolacionismo que me parece estar a crescer em diversas partes do mundo é incompatível com a evolução para um mundo melhor.
É verdade que poderá haver exagero em alguns aspectos quando se fala de alterações no clima, quando a ciência possui um elemento natural de indeterminação, mas isso não justifica escolher uma parte para desviar a atenção do todo.
Desde a Primavera Silenciosa de Rachel Carson que se tem usado a psicologia do medo com o intuito de levar as pessoas a agir e mudarem os seus estilos de vida. Na Laudato Si’, Francisco usa antes uma psicologia da esperança, motivando o agir que provém do nosso interior e que não se restringe aos que nos estão próximos, mas amplia o olhar e coração aos que estão longe. Como Moisés não baixou os braços porque havia quem os sustentasse, assim contamos uns com os outros para tornar o mundo melhor porque todos continuamos ligados.