Continuamos o nosso caminho à descoberta de como o amor do Coração de Cristo renova a nossa vida cristã e a nossa missão no mundo. A encíclica Amou-nos – Dilexit nos – deixa bem claro que a missão da Igreja, toda ela, e com maior razão a missão entre aqueles que não partilham a nossa fé, não se pode reduzir ao seu aspecto organizativo. Não bastam boas estratégias missionárias para que a missão seja bem-sucedida.
É preciso que o Amor que recebemos do Coração de Cristo, e que partilhamos entre nós, esteja ao centro de tudo o que fazemos para anunciar a nossa fé. Sem este amor, até os missionários se podem tornar simples empreendedores de actividades humanitárias. Actividades que poderão fazer muito bem, mas deixam as pessoas ainda longe daquele que é o centro da nossa fé, a pessoa de Jesus Cristo.
Francisco lembra que sempre que temos a grande consolação de contemplar pessoalmente o amor de Deus manifestado no Coração de Cristo, precisamos de ouvir a voz de Deus que nos diz, nas palavras do profeta Isaías (40,1): «Consolai, consolai o meu povo» (DN, 162). Se a consolação que recebemos de Deus é autêntica, ela impele-nos ao encontro dos filhos de Deus que vivem em situações de tribulação e de sofrimento (2 Cor 1, 4). É preciso «prolongar nos irmãos, o amor que recebemos do Coração de Cristo» (DN, 167).
Na mensagem para o Dia Mundial das Missões deste ano, o papa lembra-nos que «através dos seus discípulos, enviados a todos os povos e acompanhados misticamente por Ele, o Senhor Jesus [...] ainda hoje se inclina sobre cada pobre, aflito, desesperado e oprimido pelo mal, para derramar “sobre as suas feridas o óleo da consolação e o vinho da esperança”. A Igreja prolonga esta missão no meio dos povos, oferecendo a sua vida por todos».
Este Amor que há-de constituir o centro e a principal força motriz de todos os nossos trabalhos missionários não é algo que se possa simplesmente “produzir” (DN, 168). Só lá chegamos através de um caminho de transformação do nosso coração, que acontece na medida em que a nossa vida de vai tornando mais semelhante à vida de Jesus. Como diz a antiga oração: «Jesus, fazei o meu coração semelhante ao Vosso.»
Finalmente, colocar o Amor do Coração de Cristo ao centro da nossa missão exige de nós a vivência desse mesmo amor com os irmãos e irmãs que constituem a comunidade concreta com quem caminhamos ao longo da vida. O Amor do Coração de Cristo, vivido em isolamento, seria um falso, uma mentira existencial.
Só na medida em que sabemos traduzir o Amor que recebemos do Coração de Cristo em amor fraterno vivido com gestos e opções concretas na vida quotidiana, a partilha desse amor com os outros será autêntica. Alguém que pretendesse viver o Amor de Cristo lançando-se contra a sua própria comunidade, familiar, paroquial, estaria a viver num engano daqueles que, cedo ou tarde, acabam numa “mão-cheia-de-nada” (DN, 212). O teste de autenticidade de quem coloca o Amor ao centro da sua missão estará sempre nos olhos de quem diz: «Vede como eles se amam» (cf. Jo 13, 35).