Este título usa duas expressões latinas, bem clássicas, para falar da tarefa pastoral da Igreja: a dimensão mais interna (ad intra) e a perspectiva de relação “para fora”, com a sociedade e o mundo (ad extra).
Na encíclica Redemptoris missio (RM), o Papa João Paulo II distingue muito bem os vários destinatários da missão evangelizadora da Igreja: os não-cristãos (a quem se deve a missão ad gentes), os baptizados afastados da Igreja (que carecem de uma nova evangelização), e os membros vivos e participantes das comunidades cristãs (a quem se deve a pastoral ordinária do aprofundamento da fé).
A missão ad extra, referida nas primeira e segunda situações do texto do papa, embora os destinatários sejam diferentes, pede uma evangelização semelhante, baseada nos seguintes pontos: a) referência ao negativo (ter consciência de que se trata de não-cristãos ou de não-evangelizados); b) espiritualidade do êxodo (a Igreja tem de se deslocar, ir ter com tais pessoas, já que elas não vêm à igreja); c) anúncio explícito de Jesus e seu Evangelho (não basta apenas testemunho de vida bonito e solidário, é necessário entregar o Evangelho, dar a conhecer a pessoa de Jesus Cristo);
d) entrada na Igreja/vida comunitária (esse é o objectivo de todo o processo missionário).
Quanto à missão ad intra, a que se refere o segundo grupo de destinatários, ela é constituída por aquilo que habitualmente designamos por pastoral: pela celebração litúrgica e sacramental, mas essencialmente nas catequeses, nas homilias, nos cursos bíblico-teológicos, nas plataformas digitais e redes sociais, etc. Mas com uma preocupação bastante importante e decisiva: um anúncio baseado na centralidade da Palavra de Deus. Na verdade, contudo, as nossas comunidades locais (dioceses, paróquias…) conhecem hoje realidades muito semelhantes às da missão ad gentes (pobreza, migrantes com outras culturas e religiões, etc.), pelo que deveriam incrementar as três grandes perspectivas da missão, tal como o magistério da Igreja o tem declarado: libertação, inculturação, diálogo inter-religioso (cf. RM 52-59 e Verbum Domini 99-120).
Finalmente, havíamos de ter presentes algumas notas muito importantes de toda e qualquer tarefa evangelizadora da Igreja, já seja na missão ad intra ou na missão ad extra: a presença da alegria: «A alegria do Evangelho é uma alegria missionária» (Evangelii Gaudium, n.o 21); a preocupação com os pobres: «Se a Igreja inteira assume este dinamismo missionário, há-de chegar a todos, sem excepção. Mas [...] hoje e sempre, os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho» (EG, n.o 48); a importância do testemunho e das obras, razão pela qual a toda a missão deve ser feita com o anúncio explícito de Jesus Cristo, mas também com o testemunho de vida, em particular uma forte obra socio-caritativa (cf. VD, 97); todos os cristãos são agentes da missão: Paulo VI já escrevera, em 1975 (Evangelii Nuntiandi, n.o 24), que «todo o evangelizado evangeliza»; e o Papa Francisco sublinhou-o claramente (EG 20-31).