Opinião
06 outubro 2019

Viagem 3 M

Tempo de leitura: 4 min
O Papa Francisco levou mensagem de paz à África Austral.
P. José Vieira
Missionário Comboniano
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Não, Viagem 3 M não é nome de código: é apenas a indicação de que o Papa Francisco visitou entre 4 e 10 de Setembro três países da África Austral que começam por M: Moçambique, Madagáscar e Maurícia. As viagens apostólicas tinham em comum o tema da paz: em Moçambique, «Esperança, paz e reconciliação»; em Madagáscar, «Semeador de paz e esperança»; e na Maurícia, «Peregrino de paz».

E a paz, juntamente com a alegria, também estiveram presentes nos encontros do pontífice com os jovens. Em Maputo, o encontro foi inter-religioso: uma resposta às tensões alegadamente religiosas na província nortenha de Cabo Delgado? As populações têm sido chacinadas por grupos armados supostamente ligados ao extremismo islâmico, mas que alguns observadores dizem ser comandados por elites nacionais, a «guerra dos compadres».

O papa agradeceu aos jovens que enchiam o Estádio de Maxaquene, a primeira casa do Eusébio: «Obrigado por estarem aqui as diferentes confissões religiosas. Obrigado por vos animardes a viver o desafio da paz e a celebrá-la hoje como família que somos, incluindo aqueles que, não fazendo parte de nenhuma tradição religiosa, também estão a participar... Estais a fazer a experiência de que todos somos necessários: com as nossas diferenças, mas necessários. As nossas diferenças são necessárias.»

E instou os jovens a empenharem-se com a paz: «A paz é um processo que também vós sois chamados a fazer avançar, estendendo sempre as vossas mãos especialmente àqueles que estão a passar momentos difíceis.»

Francisco deixou um grande desafio aos jovens moçambicanos: «Não deixeis que vos roubem a alegria». Sublinhou que a alegria de viver é uma das características primeiras dos jovens, «alegria partilhada e celebrada que reconcilia e se torna o melhor antídoto capaz de desmentir todos aqueles que vos querem dividir – atenção àqueles que vos querem dividir! –, que vos querem fragmentar, que vos querem contrapor».

Em Madagáscar, o papa fez uma vigília de oração com os jovens em Antananarivo, a capital do país. Voltou a ligar juventude com alegria. Depois de notar «uma alegria e um entusiasmo extraordinários» nos jovens malgaxes, disse: «Vós sereis os construtores do futuro! Convido-vos a contribuir para ele como só vós podeis fazer com a alegria e o frescor da vossa fé.»

Em Maurícia, Francisco não se encontrou com os jovens. Contudo, na missa em Port Louis, falou deles: notou com tristeza que os jovens mauricianos continuam à margem do crescimento económico, desempregados e com futuro incerto. E sublinhou: «O impulso missionário tem um rosto jovem e capaz de fazer rejuvenescer. São precisamente os jovens que, pela sua vitalidade e dedicação, lhe podem dar a beleza e o frescor próprios da juventude, quando desafiam a comunidade cristã a renovar-se e nos convidam a partir para novos horizontes.»

A quarta viagem apostólica de Francisco à África foi um êxito e trouxe-nos a alegria exuberante das liturgias africanas, parentes apartados das nossas missas sisudas. Houve, contudo, um senão: a prometida visita ao Sudão do Sul foi adiada pela segunda vez por causa da insegurança. Começaram mesmo a construir o altar para a missa papal, que vai servir para a celebração do Centenário da Fé em Juba, a 1 de Novembro. 

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