Opinião
01 novembro 2025

Opção preferencial pelos pobres

Tempo de leitura: 3 min
O Papa Francisco instituiu, em 2016, o Dia Mundial dos Pobres – celebrado este ano a 16 de Novembro – para estimular a reflexão e acção sobre a pobreza, lembrando que o pobre é o destinatário privilegiado da mensagem evangélica e é um dever dos discípulos de Jesus agir para dar dignidade à sua vida.
Ir. Bernardino Frutuoso
Director
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Nesta oportunidade, dispomos de dois textos de Leão XIV que nos convidam a aprofundar a nossa responsabilidade de cuidar os pobres.

Por um lado, a mensagem para este dia, intitulada «Tu, Senhor, és a minha esperança» (Sl 71,5), que faz referência ao encontro confiante entre o pobre e Deus. A esperança brota sempre do coração de quem se sente oprimido por situações de dificuldade, fome, penúria ou abandono, mas que confia em Deus porque permanece firme na sua fé e sabe que «a esperança em Deus não defrauda».

Por outro lado, no passado dia 9 de Outubro, foi divulgada a Dilexit te (Eu amei-te), a primeira exortação apostólica do papa agostiniano que aborda o amor para com os pobres, um projecto herdado de Francisco. Ao longo dos 121 pontos, o texto consolida e oficializa a opção preferencial pelos pobres. À fundamentação bíblica que atesta que no rosto ferido dos pobres encontramos impresso o sofrimento dos inocentes e, portanto, o próprio sofrimento de Cristo, soma-se a tradição patrística e o magistério eclesial, para validar que a luta pela justiça social e pela igualdade é central no Cristianismo. O documento sublinha que dignificar os vulneráveis e excluídos é uma «questão essencial da nossa fé» e que «o amor aos pobres representa a prova tangível da autenticidade do amor a Deus». O papa norte-americano – que obteve a cidadania do Peru, país onde foi missionário e bispo – aprofunda também o caminho percorrido neste último meio século pela Igreja latino-americana, que foi capaz de elaborar uma proposta teológica e um projecto pastoral para corroborar que «cada renovação eclesial sempre teve como prioridade a atenção preferencial aos pobres».

Embora a exortação seja mais eclesiológica do que social, ela não deixa de mencionar o grito dos pobres e os rostos da pobreza que interpelam a nossa vida, as nossas sociedades, os sistemas políticos e económicos e, sobretudo, a Igreja. Critica a «ditadura de uma economia que mata», denunciando as estruturas do pecado. O papa defende, ainda, um compromisso com os pobres e uma promoção integral que tenha o pobre como sujeito. Exige abordar as causas estruturais da pobreza, tanto no âmbito internacional como local.

Estes dois textos pedem à Igreja uma opção firme e radical a favor dos descartados da sociedade, convidando-nos a quebrar a barreira da aporofobia (aversão a pessoas pobres, conceito criado pela filósofa espanhola Adela Cortina), o primeiro passo para que o pobre deixe de ser um mero destinatário da nossa benemerência e se torne um protagonista e cidadão de pleno direito na sociedade e na Igreja. Ignorar os pobres, fechar os olhos perante a miséria dos nossos irmãos e irmãs é negar a existência do próprio Deus, porque para os discípulos de Jesus, «os pobres não são uma categoria sociológica, mas a própria carne de Cristo».

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Editorial
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EDIÇÃO
Novembro 2025 - nº 762
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