Opinião
11 novembro 2025

Angola, 50 anos de luzes e sombras

Tempo de leitura: 4 min
Tudo somado, a independência foi um ganho enorme. É importante que «Angola seja cada dia mais independente e soberana».
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Publicação conjunta da Missão Press


A
ngola é o último país lusófono africano a celebrar os 50 anos de independência. A festa grande será a 11 de Novembro. Começo por recordar uma experiência recente.

A Conferência Episcopal de Angola e S. Tomé (CEAST) publicou, a 17 de Julho, uma longa e bem trabalhada mensagem para celebrar os 50 anos da independência. Começa por referir todos os ganhos de uma vitória frente ao colonialismo. E, depois de deixarem claro que a independência é uma graça a celebrar, os bispos têm a coragem de pôr o dedo em algumas das feridas abertas e ainda não cicatrizadas. Falar de «imperativos para mudança» é assumir a missão profética de corrigir erros e propor caminhos de futuro assentes nos valores que constroem um país com cidadãos livres, responsáveis e comprometidos. A parte final consta de dez apelos, todos a apontar para um futuro de justiça, paz, democracia e respeito pelos direitos humanos.

São interessantes e desafiantes as comparações entre colonialismo e neocolonialismos, as citações das intervenções dos Papas João Paulo II e Bento XVI em Angola, a ligação ao jubileu da Igreja e seus valores, bem como as referências a algumas das mensagens mais marcantes da CEAST ao longo destas últimas cinco décadas de Angola.

João Paulo II, na sua visita em 1992, num tempo de paz e de eleições, referiu a importância da «consolidação de Angola como um Estado de direito, assente nos valores e nos princípios da vida, da justiça social e do respeito mútuo». Esta mensagem refere, numa primeira parte, aspectos positivos evidentes: «são luzes que aplaudimos e de que nos orgulhamos».

Com espírito crítico e construtivo, a CEAST aponta alguns «imperativos para a mudança» que se impõem, para bem do povo. Falam de «estender a justiça social em favor de todos […], com igualdade de oportunidades», «prestando mais atenção às exigências da justiça social». É importante e necessário reconhecer «os nossos erros, as nossas sombras e insuficiências». Falam os bispos do pouco apoio à agricultura familiar; do contrabando e purga de minerais, inertes, combustíveis e outros recursos públicos; deficiente política educativa; falta de saúde de qualidade; aberrante e alarmante desvio de fundos públicos, escandalosa expatriação de capitais, degradação do meio ambiente; escandalosa lógica de oportunismo; crescimento desordenado das cidades; falta de estradas, pontes e várias outras infra-estruturas públicas e a convicção de que há restrições à liberdade de expressão, o sistema político é centralizado e autocrático  e os conflitos herdados do passado mantêm reflexos nefastos nas relações hoje entre partidos.

Tudo somado, a independência foi um ganho enorme. É importante que «Angola seja cada dia mais independente e soberana». Entre os apelos finais, saliento o último, que diz que «é fundamental a educação das novas gerações nos valores sociais, culturais, éticos e cristãos para que elas percebam que são o presente o futuro da Nação».

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EDIÇÃO
Novembro 2025 - nº 762
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