Opinião
16 novembro 2025

Coração que confia sempre

Tempo de leitura: 4 min
Centrar o nosso olhar no Coração de Cristo comunica--nos a mesma energia que animava Jesus e ajuda-nos a confiar sempre n’Ele.
P. Fernando Domingues
Missionário Comboniano
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confiança em Deus é uma característica típica de quem vive centrado no amor do Coração de Cristo. É como viver sempre ligados a uma força que é muito maior do que toda a energia que nós mesmos possamos produzir para motivar o que fazemos e o estilo de vida que escolhemos para o nosso dia-a-dia.

Na carta encíclica sobre a qual temos vindo a reflectir nestes últimos meses, o Papa Francisco apresenta-nos o testemunho de Cláudio de la Colombière, um dos santos que experimentou a devoção ao Coração de Jesus e colaborou muito para que ela se difundisse na Igreja. A sua partilha inspirou muita gente a descobrir a sua fé de maneira nova (ver DN n.º 126). São Cláudio confessa, a certo ponto: «Meu Deus, estou tão convencido que velais sobre aqueles que em Vós confiam, e que nada pode faltar a quem de Vós tudo espera, que resolvi viver o futuro sem preocupação alguma, e descarregar sobre Vós todas as minhas preocupações [...]. O que nunca perderei é a esperança; conservá-la-ei até ao último instante da minha vida.»

Este cristão, que olhava para Cristo através da imagem do seu Sagrado Coração, vivia na certeza de que Deus cuidava sempre dele, o acompanhava e estava presente não só nos seus momentos de oração, mas também ao longo de todo o dia, nos trabalhos que precisava de realizar. Por isso, ele vivia cada momento sentindo-se sempre acompanhado pela presença amorosa de Deus, e não se preocupava com o seu futuro pois, fosse ele o que fosse, São Cláudio tinha a certeza de que o amor de Deus lá estaria para o sustentar e lhe dar toda a energia de que precisasse.

Ele colocava o seu presente e o futuro inteiramente nas mãos de Deus, sabendo que aquele Amor que ele contemplava no Coração de Cristo não deixaria desperdiçar nenhum dos seus esforços para fazer o bem. E quando alguns dos trabalhos que ele fazia pareciam não dar fruto, ele não se angustiava e nunca perdia a esperança, pois sabia que tudo ficava naquele depósito seguro que é o Coração de Cristo e, a partir dali, daria fruto a seu tempo, o tempo de Deus.

Vemos aqui uma atitude muito parecida com a maneira como o próprio Jesus enfrentava os aparentes fracassos da sua missão e até mesmo o mistério tremendo da sua morte. Jesus tinha a certeza de que tudo ficava nas mãos seguras do Pai do Céu e que, a seu tempo, o bem que ele agora fazia ia produzir frutos abundantes. E foi assim que do aparente fracasso da sua paixão e morte nasceu «ao terceiro dia» a sua vida nova na ressurreição, e daí nos veio o Espírito Santo com os seus dons, e daí, da oferta incondicional da Sua vida, acabou por nascer a Igreja e tudo o que hoje vivemos nela.

Centrar o nosso olhar no Coração de Cristo comunica-nos a mesma energia que animava Jesus e ajuda-nos a confiar sempre n’Ele, na certeza de que todo o bem que vamos fazendo fica, de algum modo, depositado no seu Coração, como uma semente que o amor de Deus fará germinar e crescer e dar fruto, a seu tempo.

Podemos viver confiando no Coração de Cristo e, como São Claúdio, conservar a esperança até ao fim.

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Novembro 2025 - nº 762
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