Opinião
01 abril 2020

O poder da solidariedade

Tempo de leitura: 4 min
Estes tempos de adversidade são um desafio a crescer em resiliência e a (re)começar.
Bernardino Frutuoso
Director
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Este ano, a Quaresma, tempo de conversão ao Evangelho de Jesus, foi marcada pela catástrofe causada pelo novo coronavírus. Este inimigo silencioso e invisível chegou de forma inesperada e para conter a sua disseminação e salvar vidas, sobretudo a dos mais vulneráveis, os governos decretaram medidas de isolamento social extremo – alguns políticos, menosprezando os dados científicos, demonstraram a sua miopia e incapacidade perante o flagelo e percebeu-se, como referiu o filósofo Yuval Harari, que «faltaram líderes à Humanidade na batalha contra o coronavírus».

Assim, abruptamente, alterou-se o nosso estilo de vida, com mudanças nas relações sociais, rotinas quotidianas, formas de trabalhar – inclusive na nossa redacção, que fez parte desta edição em regime de teletrabalho. O modo de celebrar a fé também se adequou e, na era das redes sociais, multiplicaram-se os «templos» virtuais e os projectos criativos de evangelização na Internet.

A covid-19 desmoronou a nossa sensação de invulnerabilidade e gerou vagas inauditas de medo, ansiedade, sofrimento e dor. E se houve alguma coisa que ajudou a mitigar essa sensação de temor e impotência foi o poder da solidariedade.

Multiplicam-se os exemplos de entreajuda, compaixão e fraternidade, seja dos abnegados profissionais de saúde, dos outros cuidadores ou de milhares de heróis anónimos.

Na luta global contra a pandemia, os Estados coordenaram estratégias, os cientistas trabalham juntos para encontrar uma vacina, os cidadãos pensam no bem do próximo. Emerge uma razão sensível e cordial e um sentido de interdependência de todos com todos e com a Casa Comum, bem presentes nas frases que acompanharam a oferta de máscaras da China à Itália: «Somos ondas do mesmo mar, folhas da mesma árvore, flores do mesmo jardim».

No mesmo sentido, declarou o Papa Francisco a um jornal italiano: «Aqui choramos e sofremos. Todos. Toda a humanidade está a sofrer e só podemos sair juntos desta situação com a humanidade unida. É necessário olhar para o outro com espírito de solidariedade. Não há distinções, somos todos humanos e estamos todos no mesmo barco.» Pensando nesta situação e nas interpelações para o futuro, D. Vincenzo Paglia, presidente da Pontifícia Academia para a Vida, afirmou que a pandemia global e os seus efeitos só se podem vencer com uma estratégia mundial e com «os anticorpos da solidariedade». A solidariedade – que faz superar a indiferença e sentir, com o coração, a dor dos outros – permitir-nos-á apoiar com criatividade e generosidade os mais afectados com a covid-19 e os pobres, que são os que mais sofrem e sofrerão com esta crise, nomeadamente com a crise económico-financeira que se antevê.

Estes tempos de adversidade são um desafio a crescer em resiliência e a (re)começar. Os crentes celebramos a Páscoa da Vida, o mistério da morte e ressurreição de Jesus, fixando os olhos no Crucificado/Ressuscitado que está connosco e continua a sussurrar amorosamente no nosso coração: «Não temas, estou contigo!» Redescobrimos, assim, o sentido profundo da fé, a potência do amor que transforma e a força da esperança. Sonhamos com um mundo melhor e mais feliz e, com audácia e criatividade, continuamos a ser missão, a testemunhar a Boa Nova e a construir o Reino de Deus, que é Vida em abundância.

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Nestes tempos da covid-19, pedem-nos que fiquemos em casa para nos protegermos, cuidar de nós e dos nossos e ser solidários com a comunidade. Os Missionários Combonianos e as revistas Além-Mar e Audácia querem contribuir para que passe este período da melhor forma possível e, por isso, enquanto durar a quarentena,  decidimos tornar de leitura livre todos os conteúdos das nossas publicações missionárias.

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Editorial
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