Opinião
05 junho 2021

Três crises e uma solução

Tempo de leitura: 3 min
A Humanidade deve comemorar o ambiente através de um novo rumo, que tem de ser muito mais sustentável.
Francisco Ferreira
Associação ZERO e Professor no CENSE/FCT-NOVA
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(© 123RF)

 

O dia 5 de Junho, Dia Mundial do Ambiente, vai ser vivido pelo segundo ano consecutivo num ambiente de crise pandémica. Porém, se para a covid-19 a vacina nos dá esperança, relativamente à forma como vamos deixar o planeta e às três grandes crises que atravessamos, a capacidade de termos uma solução tecnológica tão expedita não existe. Efectivamente vivemos uma crise climática, provavelmente o maior desafio que a humanidade enfrenta neste século, uma crise da biodiversidade, com uma enorme perda de espécies e ainda sofremos uma crise de recursos, quando a nossa pegada ecológica está muito acima daquilo que a Natureza renova todos os anos.

Relativamente ao clima, o ano de 2020 foi o mais quente desde que há registos, igualando 2016. Em Portugal, o Julho de 2020 foi o mais quente desde que existem registos rigorosos no país, ou seja, desde 1931. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) classificou-o como «extremamente quente». Quanto à biodiversidade, num relatório das Nações Unidas publicado em 2019, os cientistas alertaram que um milhão de espécies – de um total estimado de oito milhões – estão ameaçadas de extinção, muitas já nas próximas décadas. Alguns cientistas até consideram que estamos no meio do sexto evento de extinção em massa na história da Terra. As extinções em massa anteriormente conhecidas eliminaram entre 60% e 95% do total das espécies. No que respeita aos recursos, todos os anos é apresentada uma estimativa sobre o dia em que a Humanidade atinge o limite do uso sustentável de recursos naturais disponíveis para esse ano, ou seja, o orçamento natural, habitualmente designado como Dia de Sobrecarga da Terra. Com excepção do ano de 2020 devido à pandemia, há sempre uma antecipação deste dia em cada ano que passa.

O consumo de alimentos (32% da pegada global do país) e a mobilidade (18%) encontram-se entre as actividades humanas diárias que mais contribuem para a pegada ecológica de Portugal. Em termos de práticas individuais, é fundamental reduzirmos a presença de proteína animal na alimentação: os dados para Portugal indicam que cada português consome cerca de três vezes a proteína animal que é preconizada na roda dos alimentos. Aproximar a nossa dieta à roda dos alimentos reduz, de forma significativa, o impacto ambiental associado à alimentação e é mais saudável. No que respeita à mobilidade, é fundamental movimentarmo-nos de forma sustentável: privilegiar os transportes colectivos, andar de bicicleta, a pé, e claro, reduzir muito as viagens de avião. Por último, consumir de forma mais circular: é fundamental mudar o paradigma de «usar e deitar fora», para um paradigma de «ter menos, mas de melhor qualidade», com um forte enfoque na redução, reutilização, troca, compra em segunda mão e reparação.

Apostar no bem-estar, na frugalidade, na suficiência, numa mudança onde a felicidade se constrói com menos, mas valendo mais, é a solução para uma Humanidade que deve comemorar o ambiente através de um novo rumo, que tem de ser muito mais sustentável. 

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