Opinião
01 novembro 2021

(Re)construir uma Igreja sinodal

Tempo de leitura: 3 min
Realizar este caminho sinodal pró-activamente permitir-nos-á sonhar com uma mudança do actual paradigma eclesial, construindo uma Igreja com maior comunhão, pluralidade e diversidade.
Bernardino Frutuoso
Director
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O Papa Francisco inaugurou no passado dia 9 de Outubro o Sínodo sobre a Sinodalidade – como destacamos nas páginas 16-22. O pontífice sublinhou que o «tema da sinodalidade não é o capítulo de um tratado de eclesiologia, muito menos uma moda, um slogan ou novo termo a ser usado ou instrumentalizado nos nossos encontros. Não! A sinodalidade exprime a natureza da Igreja, a sua forma, o seu estilo, a sua missão». E indicou a tríade de verbos que deve guiar este momento inédito na história da Igreja: encontrar, escutar, discernir. Na mesma linha, o teólogo venezuelano Rafael Luciani, assessor da Comissão Teológica do Sínodo, lembra que a sinodalidade é o «princípio operativo que desencadeia um processo de eclesiogénese», ou seja, um caminho de (re)construção da Igreja, que a faça repensar a sua identidade, configuração e missão.

A primeira etapa do sínodo realiza-se de Outubro de 2021 a Abril de 2022 nas dioceses de todo o mundo, que devem dinamizar uma ampla experiência de escuta, que supere os muros dos templos e escute todas as vozes.

Em Portugal, os bispos aderiram a este projecto, afirmando a relevância do espírito de sinodalidade para a Igreja de hoje.

Jorge Ortiga, arcebispo de Braga, pediu uma atitude de auscultação activa e participação: «Devemos passar da passividade e obediência a um compromisso co-responsável no pensar e no agir. […] Vamo-nos ouvir, mas abramos, também, os ouvidos ao mundo. Não são suficientes os nossos raciocínios intra-eclesiais. Precisamos de sair para ouvir a voz do mundo a partir de dentro. Deixemos que ele fale e nos aponte as nossas incongruências e infidelidades. Pode custar muito e poderemos não ter vontade de ouvir. Mergulhemos no mundo e deixemos que manifeste as suas insatisfações e expectativas. Não coloquemos filtros. […] Precisamos de nos preparar para concretizar uma conversão sinodal».

O cardeal António Marto, bispo de Leiria-Fátima, disse que é necessário discernimento comunitário para abandonar as «tentações do clericalismo, da rigidez e do sectarismo» e encontrar «consensos num processo espiritual de escuta». Explicitou que «esta atitude marca uma visão da Igreja: convida a passar de um modelo de Igreja clerical, a um modelo sinodal, baseada na co-responsabilidade de todos os fiéis leigos, fiéis padres, fiéis bispos, e fiel sucessor de Pedro». E sublinhou que a meta deste caminho sinodal «é uma Igreja missionária, de portas abertas e em direcção às periferias. Estamos muito habituados a dizer “vinde à Igreja”, mas Jesus disse “ide”. Até o Papa Francisco diz que a Igreja tem Jesus prisioneiro e ele quer sair, quer ir às periferias».

Realizar este caminho sinodal pró-activamente permitir-nos-á sonhar com uma mudança do actual paradigma eclesial, construindo uma Igreja com maior comunhão, pluralidade e diversidade. Contudo, este itinerário só é possível se os discípulos de Jesus, como recorda Francisco, nos convertermos e escutarmos o Espírito Santo, o protagonista da missão da Igreja, pois é Ele que nos impulsiona a abrir janelas e portas, imbuindo-nos, com humildade, da Sua fidelidade criativa.  

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Editorial
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