Opinião
01 março 2022

Peregrinos de Esperança

Tempo de leitura: 4 min
O Jubileu 2025 é um acontecimento que abre novos horizontes para a vivência da fé cristã e quer fazer ressurgir a esperança nos tempos pós-pandemia.
Bernardino Frutuoso
Director
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O flagelo da pandemia ainda está a afectar a vida quotidiana de milhões de pessoas no mundo, dando maior visibilidade às profundas e crescentes desigualdades. No âmbito eclesial, percebemos que, nesta época de metacrise, seguindo os apelos do Papa Francisco – que neste mês cumpre nove anos de pontificado ao serviço do «santo povo de Deus», como ele gosta de dizer – a Igreja está atenta aos mais necessitados e empenha-se na construção de um mundo melhor. É uma comunidade de discípulos missionários que “desconfina” e nas periferias do mundo – como relatamos todos os meses nas páginas da Além-Mar –, celebra e testemunha a fé em Jesus, opta preferencialmente pelos pobres, pratica a cultura do cuidado e da proximidade, curando feridas e enfrentando situações de exclusão, injustiça e indiferença. É por isso que, neste contexto social conturbado, acolhemos com alegria o lançamento do Jubileu 2025, um acontecimento que abre novos horizontes para a vivência da fé cristã e quer fazer ressurgir a esperança nos tempos pós-pandemia.

«Devemos manter acesa a chama da esperança que nos foi dada e fazer todo o possível para que cada um recupere a força e a certeza de olhar para o futuro com espírito aberto, coração confiante e mente clarividente. O próximo Jubileu poderá favorecer imenso a recomposição de um clima de esperança e confiança, como sinal de um renovado renascimento do qual todos sentimos a urgência. Por isso, escolhi o lema Peregrinos de esperança», escreve Francisco numa carta que enviou ao arcebispo Rino Fisichella, responsável pela preparação do próximo Ano Santo na Igreja Católica.

O Ano Jubilar era uma tradição bíblica (cf. Levítico 25, 9-13), considerado um momento culminante da vida religiosa e social do povo de Israel. Expressava a experiência da misericórdia de Deus e do Seu amor e ternura. Era um tempo de libertação, com o qual se permitia que todos voltassem à situação originária, com o cancelamento de todas as dívidas, a restituição da terra e a possibilidade de gozar novamente da liberdade, própria dos membros do povo de Deus. Como sublinha o Papa Francisco, «a finalidade era uma sociedade fundamentada na igualdade e na solidariedade, onde a liberdade, a terra e o dinheiro voltassem a tornar-se um bem para todos e não apenas para alguns, como hoje acontece, se não me engano...» (Audiência geral, 10/02/2016). O Jubileu apontava para a utopia de um mundo novo, orientado pelos princípios da igualdade, da fraternidade, da partilha, da misericórdia, da justiça.

Nessa perspectiva, o papa desafia os baptizados de hoje a recomeçar e a associar a dimensão espiritual do Jubileu, que convida à conversão e à oração – propõe fazer no ano de 2024 uma «grande “sinfonia” de oração» –, aos «aspectos fundamentais da vida social, de modo a constituir uma unidade coerente». Assim, indica que o próximo Ano Santo é um tempo propício para pôr em prática a solidariedade efectiva e recuperar o sentido de fraternidade social.

E Francisco convida-nos, igualmente, a que ao longo deste caminho de preparação para o Jubileu «não nos desleixemos», contemplando a beleza da criação e cuidando da Terra, a nossa Casa Comum. 

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Editorial
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