Opinião
29 abril 2022

Responsabilidade como mente do futuro

Tempo de leitura: 3 min
Um contacto mais intenso com o mundo natural estimula o desenvolvimento da mente responsável para ser-se humano mais sustentável.
Miguel Oliveira Panão
Professor universitário
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(© 123RF)

 

Howard Gardner (psicólogo) propôs que no futuro deveríamos desenvolver cinco mentes e uma delas é a responsável. Esta mente não serve apenas para pensar, mas pretende orientar o nosso agir. Como podemos desenvolver uma mente responsável fortalecendo o relacionamento com o mundo natural?

Cada ideia é uma responsabilidade, mas o mais comum entre as pessoas é que todos se consideram excelentes a formular ideias e deixam para os outros o modo de as concretizar. Sempre que assim for, cresce o número de ideias desprovidas de vida, podendo serem aparentemente atraentes, mas inconsequentes. Por exemplo, uma vez fizeram um anúncio que dava a entender que até um macaco era capaz de ser ensinado a reciclar, logo, por que razão era tão difícil para os humanos reciclar? Não caiu bem porque ninguém gosta de ser comparado com um macaco, mas, quando substituíram os macacos por crianças, tudo mudou.

«Com grande poder vem uma grande responsabilidade» – diz a célebre frase presente em quase todas as gerações do filme Homem-Aranha, e o facto de o ser humano ter começado a mudar a face do planeta, nesta era do Antropoceno, significa ter demonstrado um grande poder sobre a Natureza. E, daí, a necessidade de desenvolver uma mente responsável no relacionamento que temos com o mundo natural. Nem sempre é claro o modo de manifestar essa responsabilidade porque se notam dois resultados do défice relacional que temos relativo ao mundo natural: iliteracia ecológica e excesso de consumo.

Desconhecemos em grande parte o modo como funciona o mundo natural. Estamos de tal modo ligados à vida digital, que acabamos por ficar desconectados da Natureza que nos rodeia, vivendo a maior parte do nosso tempo entre quatro paredes. E consumimos mais do que precisamos para viver fisicamente com a enorme quantidade de entretenimento com que preenchemos grande parte da nossa atenção ao longo do ano.

É difícil dizer que temos um relacionamento pessoal com alguém sem o conhecermos. Por isso, supera-se a iliteracia ecológica com o acto de conhecer. E uma das melhores fontes de conhecimento são os livros. O nosso cérebro não está preparado para ler, por isso, ao fazê-lo através de livros que nos falam da Natureza temos dois benefícios: maiores capacidades cognitivas e o conhecimento da Natureza estimula o desejo de ir ao seu encontro.

Depois, a melhor forma de contrariar o consumo excessivo de entretenimento é sermos curiosos. A curiosidade é o berço da criatividade subjacente a uma vida espiritual mais profunda. Pode-se ser curioso desenhando uma folha a olho, fazendo uma escultura na areia, recolhendo flores para começar um herbário, ou até experimentar um novo caminho pelo bosque. E nessas alturas até o ecrã pode ser usado para nos tornarmos mais curiosos, como tem acontecido pela iniciativa iNaturalist (https://www.inaturalist.org), que se tem tornado uma comunidade virtual assente num contacto mais intenso com o mundo natural, estimulando o desenvolvimento da mente responsável para ser-se humano mais sustentável.  

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