Opinião
01 junho 2022

A missão de reconstruir a Casa Comum

Tempo de leitura: 4 min
Só caminhando juntos, comprometidos como cidadãos ecológicos, podemos construir um mundo melhor, mais humano e mais verde.
Bernardino Frutuoso
Director
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Na Nicarágua, na localidade de Los Cocos, na região de Granada, as religiosas Teresianas, na linha da ecologia integral proposta pelo Papa Francisco na encíclica Laudato Si’, ensinam as crianças do colégio que elas dirigem a cuidar do meio ambiente recorrendo a contos. Publicaram um livro intitulado Martina, la gamusina, que narra a história de um peixe que vive no rio local, que fica perto da escola. O conto põe o peixe protagonista a tratar de uma questão concreta e problemática: o lixo. Com uma dinâmica de leitura e debate do tema levantado pelo conto, os educadores incutiram nos alunos a responsabilidade ambiental e a adopção de comportamentos sustentáveis no dia-a-dia, nomeadamente a responsabilidade de recolectar e reciclar o lixo. Além disso, como essa espécie de peixes só se alimenta de fruta, incentivaram os alunos a ter uma alimentação saudável e a evitar o desperdício alimentar.

Esta iniciativa das irmãs Teresianas lembra-nos que, ao pensar no presente e futuro do planeta, é imprescindível superar a indiferença, actuar pró-activamente para cuidar do meio ambiente, superando o paradigma tecnocrático e adoptando modelos económicos mais justos, inclusivos e sustentáveis. Porque, como explica o Papa Francisco na encíclica verde, não há duas crises separadas, uma ambiental e outra social, mas sim uma única e complexa crise socioambiental – como referimos neste número da Além-Mar em relação aos povos indígenas atacados pelo avanço do garimpo ilegal na Amazónia brasileira (ver páginas 16 a 25). Hoje, refere o papa, «neste sistema que tende a fagocitar tudo para aumentar os benefícios, qualquer realidade que seja frágil, como o meio ambiente, fica indefesa face aos interesses do mercado divinizado, transformados em regra absoluta» (A Alegria do Evangelho, 56). Nesta perspectiva, para responder ao grito da Terra e ao grito dos pobres é fundamental a adopção de um novo modelo económico, que «dá vida e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da criação e não a destrói», como afirmava o pontífice no lançamento da iniciativa Economia de Francisco em 2019.

No dia 5 deste mês, comemoramos o Dia Mundial do Meio Ambiente, efeméride que se iniciou no ano de 1974 e, ao longo das últimas décadas, tem levado milhões de pessoas a comprometerem-se na protecção do planeta. O evento deste ano será organizado pela Suécia, seguindo o lema da campanha Uma Só Terra, que recorda que tudo está ligado, o planeta é a nossa Casa Comum e os seus recursos finitos devem ser preservados pela Humanidade. Embora a nossa espiritualidade, o nosso estilo de vida e as nossas escolhas individuais de consumo façam a diferença e possam levar as empresas a mudar de rumo e adoptar princípios éticos e amigos do planeta, o Programa da ONU para o Meio Ambiente lembra-nos que «é a acção colectiva que criará a mudança ambiental transformadora de que precisamos, para que possamos caminhar para uma Terra mais sustentável e justa, onde todos e todas possam florescer». Nesse sentido, só caminhando juntos, comprometidos como cidadãos ecológicos, podemos construir um mundo melhor, mais humano e mais verde. 

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Editorial
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