Opinião
06 dezembro 2022

Clima – entre o desaire e a esperança

Tempo de leitura: 4 min
A COP27 teve os seus avanços, mas, entre várias decisões, falhou na resposta dos países em assegurarem uma indispensável redução de emissões.
Francisco Ferreira
Associação ZERO e Professor no CENSE/FCT-NOVA
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A Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (COP) realiza-se anualmente e junta, durante quase quinze dias, dezenas de milhares de representantes de todos os países do mundo, de instituições internacionais, de empresas e de muitas organizações da sociedade civil. A COP27 foi, como o nome indica, a 27.ª reunião e teve lugar em Sharm El Sheik, no Egipto. Estas reuniões são sempre um misto de alguma satisfação por algumas decisões globais para um problema global, e uma enorme frustração por ficarmos muito aquém do necessário, com a atmosfera a aquecer 2,8 graus Celsius em relação à era pré-industrial, quando sabemos que um aumento superior a 1,5 graus é dramático em termos e consequências, e que são os mais vulneráveis que sofrem.

Ao ter lugar no continente africano, o destaque foi para um continente com uma maioria de população pobre e com baixas emissões de gases de efeito de estufa e já fortemente afectada pelo agravamento dos fenómenos climáticos extremos devido ao aquecimento global, predominantemente e historicamente da responsabilidade dos países desenvolvidos, causando secas, cheias e ondas de calor, entre outros efeitos. Certamente nos lembramos do ciclone tropical Idai em 2019 ou a seca e cheias que afectaram Madagáscar ou o Sudão do Sul nos últimos anos. A questão do financiamento climático ganhou assim protagonismo, com a necessidade de garantir uma mobilização de financiamento e uma operacionalização para uma distribuição justa, além do reiterar da contribuição de 100 mil milhões de dólares de 2020 a 2025 para adaptação e ajuda na redução de emissões (mitigação) por parte dos países desenvolvidos e cujos valores não têm sido assegurados e deverão ser garantidos até ao final do período.

Perto do final da conferência realizou-se o Plenário dos Povos, um momento de união entre movimentos da sociedade civil que reuniu centenas de pessoas pela mesma causa: o fim das injustiças e uma resposta urgente dos governantes e líderes à crise climática. A mensagem é clara: a sociedade civil está unida e exige que os líderes mundiais assumam a sua responsabilidade na defesa da Humanidade. Na altura ouviu-se «ainda não fomos vencidos» e «o povo unido jamais será vencido», cânticos que se entoaram e dão corpo às reivindicações da sociedade civil: é preciso financiamento para perdas e danos; não pode haver justiça climática sem respeito pelos direitos humanos; e por último, não podemos alinhar em falsas soluções e exigimos o fim dos combustíveis fósseis. Foi uma demonstração de união e de reivindicação dos direitos dos povos indígenas, dos trabalhadores, das comunidades mais vulneráveis, de todos aqueles que todos os dias lutam pela justiça climática.

A COP27 teve os seus avanços, mas, entre várias decisões, falhou na resposta dos países em assegurarem uma indispensável redução de emissões. Infelizmente e na prática, pouco abrandámos na «auto-estrada para o inferno climático» onde mantemos «o pé no acelerador» como mencionou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres [na foto à esquerda, ao lado de Sameh Shoukry, presidente da cimeira]. 

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