Opinião
01 março 2023

Francisco: Dez anos de paixão pela missão

Tempo de leitura: 4 min
Ao longo destes dez anos, Francisco tem dado passos para a consolidação de uma Igreja de comunhão, de participação e de missão.
Bernardino Frutuoso
Director
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No dia 13 de Março, celebra-se uma década da eleição do Papa Francisco, que escolheu Francisco de Assis como inspiração para o seu pontificado em pontos tão fundamentais como a solicitude pelos últimos da sociedade, a opção pela ecologia integral, a fraternidade universal, a amizade social, o diálogo ecuménico e inter-religioso. E, fiel ao estilo do pobre de Assis, Francisco propõe um modo de vida com sabor a Evangelho, que ponha a Igreja a mexer, como refere o título do livro que reúne algumas das crónicas de Frei Bento Domingues.

Na primeira exortação apostólica que escreveu, A Alegria do Evangelho (2013), o papa argentino delineou o programa do seu pontificado: «Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo actual que à autopreservação.» E, para dar vida a esse sonho, Francisco tem-nos surpreendido não só com a sua linguagem criativa, mas também com o que podemos designar uma «encíclica dos gestos», inovadora e de profundo significado, pois os gestos e atitudes quotidianas são, muitas vezes, mais eloquentes do que as palavras: visitou Lampedusa, lugar de trágicas histórias de naufrágios de migrantes; lavou os pés a reclusos; beijou os pés dos líderes políticos desavindos do Sudão do Sul; fez selfies com os jovens.

Ao longo destes dez anos, Francisco tem dado passos para a consolidação de uma Igreja de comunhão, de participação e de missão, como o está a fazer com o actual processo sinodal sobre a sinodalidade. E não deixa de insistir que a missão é o eixo fundamental da vida da Igreja – visão bem explícita na recente reforma da Cúria Romana, que deve estar primordialmente ao serviço da evangelização e não da burocracia papal. Uma paixão missionária que se expressa na analogia da Igreja como hospital de campanha, de portas abertas, que opta preferencialmente pelos excluídos: migrantes, refugiados e tantas outras pessoas sem vez e sem voz.

Esta capacidade de ir ao encontro dos homens e mulheres de hoje para anunciar o Evangelho da alegria está visível também nas muitas entrevistas que Francisco tem concedido – nesta edição publicamos, nas páginas 24-29, uma dada à revista comboniana Mundo Negro. A escolha dos países onde realiza as viagens apostólicas exprime igualmente a opção missionária de chegar a todos, apostando no diálogo entre povos, culturas e religiões. São, ainda, uma oportunidade para manifestar solidariedade e proximidade com os descartados e esquecidos da sociedade e denunciar profeticamente a injustiça, a economia que mata e a cultura da indiferença. Assim o fez durante a recente viagem à República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul, onde lançou um apelo cheio de indignação: «Tirem as mãos da África!» (ver páginas 16-23).

O Papa Francisco, guiado pelo Espírito Santo, está a realizar uma «revolução imparável», como referem António Marujo e Joaquim Franco no livro com esse título, impulsionando os baptizados a vibrarem com a música do Evangelho (cf. Fratelli Tutti, 271-277) e a colaborarem, com alegria e entusiasmo, para que essa melodia de vida e esperança seja conhecida e acolhida por todos os povos.  

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Editorial
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