
João vivia à entrada da floresta, num abrigo improvisado. A aldeia chamava-o de “João do Carvalho”, porque ele dormia sempre aos pés da mesma árvore, enorme e torta, que o vento parecia querer derrubar e nunca conseguia.
Ninguém se aproximava muito — diziam que João era estranho, que falava sozinho, que vivia afastado por vontade própria. Mas, numa manhã de Advento, um grupo de crianças aproximou-se, guiado pela catequista.
— João, disse ela, falam-nos da tua árvore. É verdade que nunca caiu, nem nos piores temporais?
— É verdade, respondeu o homem, pousando a mão no tronco. — E sabem porquê? Porque as raízes são profundas.
As crianças aproximaram-se, curiosas.
— E tu? Não tens medo de estar sozinho?
João suspirou.
— Não estou sozinho. Aqui aprendi a ouvir Deus melhor do que no meio da confusão. Ele fala devagar, como o vento que passa pelas folhas. Só precisamos de nos calar para O escutar.
A catequista compreendeu. Voltou para a aldeia e pregou naquele domingo:
“Preparai o caminho do Senhor… começando pelo silêncio.”
