
Na vila de Santa Luzia, a chegada do carteiro era o momento mais esperado do dia. Mas no Advento daquele ano, algo diferente aconteceu: Miguel, o carteiro, começou a encontrar pequenos envelopes sem remetente na sua própria mala.
No primeiro dizia:
“Entrega à Dona Eulália. Dize-lhe que não está esquecida.”
No segundo:
“Para o senhor António. Um agradecimento por varrer a rua mesmo quando ninguém vê.”
No terceiro:
“Para a menina Clara. Diz-lhe que a sua música melhora o mundo.”
E assim por dez dias seguidos. Miguel, intrigado, distribuía as mensagens e via rostos iluminarem-se. Eulália chorou. António ficou corado. Clara correu para contar à mãe.
Na última carta, Miguel encontrou finalmente uma mensagem para si:
“A alegria espalha-se quando alguém decide entregá-la.”
Miguel sorriu pela primeira vez em meses.
E percebeu que a alegria do Advento nunca cai do céu por acaso — passa sempre pelas mãos de alguém.
