
A família Martins vivia numa casa bonita, mas há muito tempo silenciosa. Carlos e Teresa trabalhavam demais. Os filhos, Beatriz e Lourenço, raramente jantavam juntos. As conversas eram rápidas, práticas, quase técnicas — como se a casa fosse apenas um corredor entre tarefas.
Na véspera do quarto domingo de Advento, a avó Rosa chegou para passar uns dias. Olhou em redor e disse, com firmeza e doçura:
— Esta casa precisa de Belém.
Todos ficaram confusos.
— Belém, avó?
— Sim. Um lugar onde Deus possa nascer. E Deus só nasce onde há espaço. Vamos abrir espaço?
E assim, sem grandes sermões, começou a mudança:
— Beatriz desligou o telemóvel durante o jantar.
— Carlos voltou a contar histórias do seu trabalho.
— Teresa fez sopa e chamou todos para a cozinha.
— Lourenço mostrou um desenho que escondia há semanas.
À noite, colocaram juntos uma pequena imagem do Menino na sala — ainda vazia, ainda pobre, mas agora viva.
A avó sorriu.
— Pronto. Agora esta casa voltou a ser casa. Vocês abriram a porta certa.
E naquele domingo, cada um sentiu no coração aquilo que o Advento mais deseja ensinar:
Deus não procura palácios — procura espaço.
