Esta é uma tradição arraigada nas zonas mais rurais de Portugal, em que as crianças vão muito bem vestidas, levam uma sacola bonita para receber as ofertas, e são bem-comportadas.
Na origem da tradição do Pão por Deus está um ritual dos celtas, povo da Escandinávia que habitou no que é hoje Portugal. Esta celebração ocorria no outono, quando a Natureza entrava em declínio, e consistia em oferendas aos mortos.
Com a cristianização do continente europeu, muitas festas pagãs foram aos poucos tomando formas cristãs. Quando a Igreja Católica promoveu o culto dos mortos, lembrando que «mortos com Cristo, com Cristo ressuscitamos para a vida eterna» (ver Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios 15, 20-22), surgiu a tradição de reservar um lugar à mesa para os antepassados e comida para eles.
Criou-se também o costume de deixar à porta da casa o primeiro pão da fornada desta altura, tapado por um pano. Era para honrar os mortos, mas, igualmente, para que os pobres que por ali passassem se alimentassem. Deste modo, o pão para os fiéis defuntos começou a ter a vertente de partilha com quem necessitava.
O terremoto de 1755
No dia 1 de novembro de 1755, Portugal viveu a maior catástrofe da sua História, o terremoto que destruiu parte da cidade de Lisboa e afetou outras áreas do País.
Um ano depois, por causa da fome e miséria que ainda duravam, os lisboetas aproveitaram a tradição do pão para os fiéis defuntos para realizar um peditório. As pessoas percorreram a cidade, bateram às portas e pediram que lhes fosse dada qualquer esmola, mesmo que fosse apenas pão. Elas pediam «pão por Deus».
Os relatos históricos contam que, no 1.0 de novembro dos anos seguintes, incrementou-se o costume do Pão por Deus, como celebração dos que tinham sobrevivido e agradecimento aos que tinham ajudado.
Festa das crianças
No século xx, a tradição ganha a forma de festa das crianças. No 1.0 de novembro, elas vão de porta em porta a pedir o pão por Deus. Entoam rimas ou cantigas e, tradicionalmente, recebem tremoços, bolinhos de frutos secos e erva-doce, romãs, pão, e, mais recentemente, rebuçados, chocolates e outras guloseimas.
Há variações ao longo do País: na Estremadura é conhecido por «bolinho»; nos Açores, dão-se caspiadas, que lembram uma caveira humana.