
Narrador: Em Lisboa, um casal idoso conversa acerca do Natal que se aproxima:
Manuel: Sabes, Maria?! Vou pegar no telefone e ligar aos nossos filhos em Paris e Nova Iorque. Com as novas tecnologias, podemos conversar em grupo.
Maria: Sim, faz isso. Gosto muito de os ver. Mas vê lá o que lhes vais dizer acerca da tua ideia para o Natal! Eles têm as suas vidas. Não será melhor deixá-los sossegados?
Manuel (ao telefone): Olá, João! Olá, Inês!
João e Inês: Olá, pai! Olá, mãe!
Maria: Estão todos bem? E os nossos netos?
João: Estamos bem. Muito ocupados, como sempre.
Inês: Os filhotes também estão bem. Andam atarefados com os estudos, porque é época de testes. Mas estão a portar-se bem.
Manuel: Ouçam: temos uma notícia importante para vos dar. A tua mãe e eu decidimos divorciar-nos. Quarenta e cinco anos de muito trabalho e miséria já chegam.
João: Pai… do que é que estás a falar?
Manuel: Não nos suportamos mais. Estou cansado de olhar para a cara da tua mãe todos os dias. Aliás, é a única para que posso olhar nesta casa.
Inês: O quê?! Isso é um autêntico disparate! Nem pensar! Isso não vai acontecer!
Maria: Filhos, não queremos discutir isto ao telefone. Se quiserem contestar, venham conversar connosco logo que puderem.
João: Está bem. Escutem! Não se atrevam a assinar nada.
Inês: Não chamem nenhum advogado! Eu e o meu irmão apanhamos o primeiro voo amanhã.
João: Sim! Amanhã mesmo estaremos aí. Entenderam?!
Manuel (pousa o telefone devagar e olha para a esposa com um sorriso): Está feito, minha querida! Eles vêm passar o Natal connosco.
Maria (rindo também): E, ainda por cima, vão mimar-nos com lindos presentes!
Manuel e Maria: Será como diz o ditado: «Natal é dar um beijo pela manhã ao papá e à mamã.»
