Crónicas verdes de um adolescente
Em fevereiro, reparei na presença de uma grande quantidade de Romeus nos arredores da vacaria.
Fevereiro, para além de ter o estatuto de menor mês do ano e, na maior parte das vezes, ser o mês do Carnaval, também é o mês dos gatos acasalarem.
Uma pequena parte do nosso trabalho enquanto agricultores é cuidar e alimentar os gatos com as sobras da comida do almoço e jantar. A recompensa desse trabalho é a amizade que temos com estes pequenos felinos, que controlam as pragas de ratos e pombas que tanto ambicionam a comida dos outros animais da quinta.
Os gatos atuais da minha casa são bisnetos ou trinetos dos gatos que vieram viver para a vacaria há uns trinta anos. Dos oito gatos que temos, seis são fêmeas. Mas nesta altura do ano o número de gatos duplica, e é tudo Romeu que vem à procura no sítio onde há mais Julietas.
Era uma quantidade exagerada de gatos. São todos gatos das redondezas. Mas eram tantos que, às vezes, imaginei um gato a apanhar um avião ou um autocarro para vir à nossa vacaria. Talvez devêssemos cobrar a passagem aos gatos para entrarem na vacaria. Iríamos fazer um bom dinheiro.
Como a maioria dos gatos da minha casa são fêmeas adultas, quando ouço miar geralmente é um miado agudo. Mas com tanto gato macho a passear cá por casa e desesperados a chamarem e a perseguirem as suas Julietas, o timbre do miado que costumava ouvir era mais grave e com toques de desespero e agonia.
O resultado desta trapalhada toda é o inchamento das barrigas das gatas ao longo dos meses e, em meados de maio, como é tradição, aparecerem, num ninho geralmente escondido no meio dos fardos de palha, pequenas bolas de pelo rechonchudinhas e com diferentes tons de cores.
É perigoso incomodar os ninhos quando as fêmeas estão lá, pois podem sentir-se ameaçadas e, automaticamente, abrem a boca e fazem um barulho semelhante ao de um spray. As crias, ainda pequenininhas, aprendem a imitar a mãe e levantam-se, esticam-se com os pés no chão e com o tronco o mais alto possível, levantam os pelos que têm e bufam a uma possível ameaça.
O final da história repetido todos os anos é bem mais feliz que o final de Romeu e Julieta.