Sala de convívio
07 março 2022

Romeus e Julietas

Tempo de leitura: 2 min
Dos oito gatos que temos, seis são fêmeas. Mas nesta altura do ano o número de gatos duplica, e é tudo Romeu que vem à procura no sítio onde há mais Julietas.
Pedro Neves
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Crónicas verdes de um adolescente

 

Em fevereiro, reparei na presença de uma grande quantidade de Romeus nos arredores da vacaria.

Fevereiro, para além de ter o estatuto de menor mês do ano e, na maior parte das vezes, ser o mês do Carnaval, também é o mês dos gatos acasalarem.

Uma pequena parte do nosso trabalho enquanto agricultores é cuidar e alimentar os gatos com as sobras da comida do almoço e jantar. A recompensa desse trabalho é a amizade que temos com estes pequenos felinos, que controlam as pragas de ratos e pombas que tanto ambicionam a comida dos outros animais da quinta.

Os gatos atuais da minha casa são bisnetos ou trinetos dos gatos que vieram viver para a vacaria há uns trinta anos. Dos oito gatos que temos, seis são fêmeas. Mas nesta altura do ano o número de gatos duplica, e é tudo Romeu que vem à procura no sítio onde há mais Julietas.

Era uma quantidade exagerada de gatos. São todos gatos das redondezas. Mas eram tantos que, às vezes, imaginei um gato a apanhar um avião ou um autocarro para vir à nossa vacaria. Talvez devêssemos cobrar a passagem aos gatos para entrarem na vacaria. Iríamos fazer um bom dinheiro.

Como a maioria dos gatos da minha casa são fêmeas adultas, quando ouço miar geralmente é um miado agudo. Mas com tanto gato macho a passear cá por casa e desesperados a chamarem e a perseguirem as suas Julietas, o timbre do miado que costumava ouvir era mais grave e com toques de desespero e agonia.

O resultado desta trapalhada toda é o inchamento das barrigas das gatas ao longo dos meses e, em meados de maio, como é tradição, aparecerem, num ninho geralmente escondido no meio dos fardos de palha, pequenas bolas de pelo rechonchudinhas e com diferentes tons de cores.

É perigoso incomodar os ninhos quando as fêmeas estão lá, pois podem sentir-se ameaçadas e, automaticamente, abrem a boca e fazem um barulho semelhante ao de um spray. As crias, ainda pequenininhas, aprendem a imitar a mãe e levantam-se, esticam-se com os pés no chão e com o tronco o mais alto possível, levantam os pelos que têm e bufam a uma possível ameaça.

O final da história repetido todos os anos é bem mais feliz que o final de Romeu e Julieta.

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Abril 2024 - nº 627
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