À volta do mundo
07 abril 2019

Corvo: Uma ilha encantada

Tempo de leitura: 2 min
De entre os momentos da nossa História que mais merecem menções de orgulho, certamente haverá um deles que reúne alargado consenso. Refiro-me aos Descobrimentos.
Miguel Pinto Monteiro e João Martins
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Os chavões, por vezes poéticos, são de todos conhecidos: «Navegámos por mares nunca dantes navegados»; «demos novos mundos ao mundo»…

É evidente que nenhuma história é imaculada. Certamente que, nesses tempos idos, algumas, senão muitas, atrocidades se intrometeram nos feitos gloriosos. Ainda assim, nada descaracteriza as proezas alcançadas pelos bravos marinheiros, que, munidos de aparelhos engenhosos, mas ainda assim rudimentares, utilizando tantas vezes o céu como mapa, surpreenderam continentes e terras extraordinárias.

 

Um sítio onde não há estranhos

Alguns dos locais a que chegaram os nossos marinheiros foram Portugal durante muito tempo. Outros ainda o são. De entre as maravilhas que os Descobrimentos nos trouxeram está seguramente o arquipélago dos Açores, aonde chegaram os primeiros portugueses em 1432, guiados pelo navegador Gonçalo Velho Cabral.

Não estaria a exagerar quem afirmasse situarem-se nestas ilhas os mais belos recantos do nosso país. Poderíamos continuar por aqui, escrevendo e descrevendo. Outros o fizeram e têm feito com mais arte. Ainda assim, queríamos chamar a atenção para um sítio (será mais do que isso?) extraordinário, que parece mais um conto contado, do que um lugar nesta terra. Trata-se da ilha do Corvo.

Corvo é a mais pequena das nove ilhas açorianas. Ocupa uma área de apenas 17 quilómetros quadrados, tem cerca de 400 habitantes e aproximadamente 1000 cabeças de gado. A pecuária e a pesca serão provavelmente as principais fontes de rendimento de uma população que se tem mantido firme, com poucas oscilações de número. Nos dias de hoje, o Corvo conta com um pequeno aeroporto e um porto renovado. A ligação com o resto do mundo, e em particular com a vizinha ilha das Flores, está por isso facilitada. Mas consta que em tempos, quando as intempéries oceânicas se armavam e não davam tréguas por longos dias, o isolamento era total. Talvez as pessoas se sentissem como que numa barcaça verdejante, à deriva numa massa de água infinda.

Apesar do reduzido tamanho, o Corvo é belo, quando não belíssimo. Imagina, depois, a poderosa experiência humana que deverá ser viver num local rodeado de mar, com apenas mais 399 habitantes. Um sítio onde não há estranhos.

E, quanto aos corvinos, creio que merecem uma vénia especial, por se postarem, olhando de frente o oceano, na proa desta nau que é Portugal.

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