
Por Cristina Féliz, jornalista
Diz-se que foi em Uruk que tudo começou. As primeiras cidades ergueram-se como promessas de ordem num mundo ainda dominado pelo caos. As ruas eram estreitas, os zigurates elevavam-se como escadas para os céus, e os templos fervilhavam de oferendas e cânticos. Cada cidade tinha o seu deus, o seu rei-sacerdote, o seu destino traçado nas estrelas.
Foi ali que nasceu a escrita. Não por poesia, mas por necessidade: para contar cevada, registar dívidas, organizar o comércio. Mas depressa os símbolos ganharam alma. Das tabuletas brotaram mitos, leis, orações. E entre eles, o mais antigo herói da literatura: Gilgamesh, rei de Uruk, que desafiou os deuses em busca da imortalidade.
Os Sumérios não eram apenas escribas e sonhadores. Eram engenheiros da terra e do tempo. Domaram os rios com canais e diques, criaram calendários para prever as cheias, dividiram o círculo em 360 graus e o dia em 24 horas. Tudo o que hoje tomamos por certo, eles ousaram inventar.
Mas como todas as civilizações, também a deles conheceu o declínio. Vieram os Acádios, depois os Babilónios, e os Sumérios foram-se diluindo na poeira da história. Contudo, as suas palavras, gravadas em argila, resistiram ao tempo. E hoje, quando lemos os seus textos, é como se ouvíssemos ecos de um mundo que, embora distante, ainda pulsa sob os nossos pés.
